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O décimo Congresso Brasileiro de Jornais (CBJ), realizado na semana passada em São Paulo, terminou com um novo passo na direção do fortalecimento dos jornais. Já estava consolidada a convicção de sua importância para a democracia. Mas, sem um sólido modelo de negócios, todo esse trabalho estaria correndo risco. E foi a esse aspecto que os participantes do evento, organizado pela Associação Nacional dos Jornais (ANJ), se dedicaram.

Historicamente, a medida mais usada para medir o alcance de um jornal impresso era sua tiragem diária, o número de exemplares que saíam da gráfica. Com base nessa medida, os veículos se comparavam uns com os outros, e era esse número que o mercado publicitário tinha em mente na hora de programar os investimentos de seus clientes. Enquanto isso, outros meios de comunicação, como o rádio e a televisão, eram avaliados de acordo com seu alcance efetivo, o número de pessoas impactadas pela exibição de determinado programa. Assim, qualquer comparação envolvendo jornais impressos – medidos pela tiragem diária – e outros meios, medidos pelo seu alcance, resultaria amplamente desfavorável aos jornais.

A entrada em cena da internet transformou o jornal, que deixou de existir exclusivamente em papel. Hoje, ele é impresso, lido nos computadores e nas telas de tablets e smartphones. Para os sites, consolidou-se a métrica dos unique visitors ("visitantes únicos"), normalmente avaliada mensalmente. Mesmo assim, a tiragem diária do jornal impresso não tinha deixado de ser um critério relevante na disputa pelos recursos da publicidade. Os meios de comunicação continuavam a ser avaliados por critérios diferentes e não surpreenderia que, ao olhar os dados, alguém chegasse a pensar que o jornal impresso estava em franca decadência.

No entanto, números sobre o efetivo alcance dos jornais, superando a defasada métrica da tiragem diária, já existiam havia algum tempo – faltava apenas que os próprios veículos de comunicação descobrissem sua real força. E a verdade é que nunca se leu tanto jornal, independentemente da plataforma – impressa ou digital. Em julho de 2014, a Gazeta do Povo, O Estado de S.Paulo, o Zero Hora e O Globo, somados, tiveram 17,3 milhões de unique visitors apenas nas plataformas móveis, quase seis vezes mais que em janeiro de 2013. Mesmo o jornal em papel segue forte – a Gazeta do Povo impressa tem, em Curitiba, mais leitores que os principais portais de notícias do país.

À consciência da força dos jornais manifestada pelos números se junta a constatação de sua credibilidade. Em março, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República divulgou a Pesquisa Brasileira de Mídia, na qual, entre muitos outros dados, brilha a percepção de que o jornal é o meio em que o brasileiro mais confia: 53% dos entrevistados confiam sempre ou quase sempre nas informações veiculadas nos jornais, porcentual que supera o rádio (50%), a televisão (49%), as revistas (40%), os demais sites (28%), as mídias sociais (24%) e os blogs (22%). Com todas essas informações em mãos, os jornais perceberam a necessidade de se unir não só para tornar esses números mais conhecidos pelo mercado, mas também para buscar um modelo de negócios que permita aos jornais atingir a sustentabilidade para continuar a prestar seu relevante serviço à sociedade.

Foi assim que, no CBJ, ficou consolidado esse novo posicionamento, com o lançamento de novas ferramentas de venda de negociação de anúncios nas plataformas impressa e digital em jornais associados à ANJ. O Digital Premium Jornais permitirá a venda simultânea de anúncios em nove sites dos maiores jornais brasileiros, enquanto o Marketplace dos Jornais terá informações sobre preço, formatos, audiência e circulação, para que o mercado publicitário possa planejar a veiculação de anúncios nos veículos impressos da entidade.

A grande mensagem do CBJ é justamente esta: os jornais, para terem um modelo sustentável, precisam se unir. Não deixam de ser concorrentes, mas têm o objetivo comum de garantir sua existência de forma responsável, mantendo sua independência e credibilidade – atributos indispensáveis, como ressaltou uma das homenageadas no CBJ, a jurista colombiana Catalina Botero, relatora de Liberdade de Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Ela se dedica especialmente à defesa dos jornalistas que vivem sob regimes autoritários; seu trabalho comprova, na prática, as palavras de Fernão Lara Mesquita, do Grupo Estado, para quem "democracia, jornalismo e liberdade de imprensa (...) são coisas que nascem e morrem juntas" – como mostram a Venezuela, cujo governo asfixia os jornais de oposição, e a Argentina, com sua Lei de Meios. Com jornais fortalecidos, a democracia respira – e agradece.

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