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A lenta recuperação do emprego
| Foto: Marcelo Andrade/Arquivo/Gazeta do Povo

Mais uma vez, os dados do mercado de trabalho costumeiramente divulgados no fim de cada mês trazem números positivos, embora o país ainda esteja muito longe de vencer o grande mal socioeconômico do desemprego, uma “herança maldita” da crise lulopetista que ainda não tinha sido debelada quando a pandemia da Covid-19 lançou a economia brasileira no caos, com quebradeira e demissões. Tanto o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério da Economia, quanto a Pnad Contínua, do IBGE, repetiram o desempenho do mês anterior e mostraram leves avanços na luta contra o desemprego.

O Caged manteve a escrita de saldo positivo no emprego formal desde janeiro, registrando a abertura de 313,9 mil postos de trabalho com carteira assinada em setembro, com desaceleração na comparação com agosto (quando o saldo foi de 368,1 mil), mas ainda assim o terceiro melhor mês de 2021 na geração de emprego. Um aspecto positivo a se ressaltar é o fato de o desempenho positivo ter sido verificado em todos os cinco grandes setores da economia – serviços, indústria, comércio, construção e agropecuária – e em todos os estados e o Distrito Federal. Em coletiva virtual, o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, destacou as 31,7 mil vagas criadas no grupo “alojamento e alimentação”, o que, para ele, indica uma retomada no turismo doméstico, um dos setores atingidos de forma mais dura e longeva pela pandemia.

A lenta recuperação do emprego não pode ser dada como certa no futuro próximo, pois há muita indecisão à frente quanto a crescimento, juros, inflação e saúde fiscal do Brasil

Já a Pnad Contínua, que usa metodologia diferente do Caged, registrou queda no índice de desemprego pelo quarto mês consecutivo. Após o recorde de 14,7% registrado nos trimestres móveis encerrados em março e abril de 2021, o desemprego começou a recuar: 14,6%, 14,1%, 13,7% e 13,2% nos trimestres encerrados, respectivamente, em maio, junho, julho e agosto. Pela primeira vez no ano o número de brasileiros desempregados baixou de 14 milhões, ficando em 13,656 milhões. A conta do IBGE não considera apenas quem trabalha com carteira assinada, mas também os informais e os que trabalham por conta própria – essas duas categorias têm puxado esta queda recente do desemprego, mostrando que ainda há limitadores para o crescimento do emprego formal, que traz mais renda e segurança para o trabalhador.

Um aspecto específico dos números do Caged merece atenção: setembro foi o primeiro mês em que não vigorou o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm). Embora ainda haja muitos trabalhadores que estejam ou no meio dos acordos de suspensão de contrato ou redução de salário e jornada, ou no período de estabilidade garantido por lei depois que os acordos terminam, em setembro empresas e funcionários já não podiam assinar novos acordos. Ainda assim, ainda houve aumento substancial no saldo do emprego formal, o que mostra um certo grau de resiliência na atividade econômica mesmo sem essa ferramenta de manutenção dos postos de trabalho. Como os últimos números da Pnad Contínua se referem a agosto, só no fim do próximo mês, com a divulgação dos dados de setembro, saberemos se o fim do BEm teve algum efeito negativo na taxa de desemprego medida pelo IBGE. De qualquer forma, a avaliação definitiva sobre a robustez do mercado de trabalho só virá quando todos os acordos e estabilidades tiverem expirado, no início de 2022.

Essa lenta recuperação, no entanto, não pode ser dada como certa no futuro próximo. Há muita indecisão à frente, refletida na decisão recente do Copom de elevar a taxa Selic em 1,5 ponto porcentual para conter uma inflação que insiste em se manter elevada. E não são apenas os juros em alta que inibem o investimento; o desarranjo fiscal e as pressões gastadoras em Brasília também geram desconfiança nos investidores a respeito da solidez do país. Uma recuperação mais consolidada do emprego depende da reversão de trajetórias preocupantes na inflação, no câmbio e nos impulsos gastadores de Executivo e Legislativo.

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