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editorial

A lista de Janot no Supremo

Cabe ao ministro Teori Zavascki decidir se abre investigação contra 54 detentores de foro privilegiado citados na Operação Lava Jato. As instituições brasileiras serão novamente testadas

Está nas mãos do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), a lista com 28 pedidos de abertura de inquérito envolvendo 54 políticos que têm foro privilegiado e foram citados ao longo das investigações da Operação Lava Jato. Além da abertura de inquérito propriamente dita, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também solicitou a Zavascki que levante o sigilo sobre essas investigações, o que permitiria ao público saber quem são os 54 nomes da lista, além daqueles mencionados nos sete pedidos de arquivamento feitos pela PGR. Os pedidos serão analisados por Zavascki um a um; se ele optar por acabar com o sigilo, pode tanto divulgar todos os nomes de uma vez só (o que é dado como mais provável), ou fazê-lo aos poucos, à medida que for aceitando os pedidos. Até o momento, não há certeza absoluta nem mesmo sobre os dois políticos que mais aparecem nas especulações que aterrorizam os corredores do Congresso Nacional e do Palácio do Planalto: os de Renan Calheiros, presidente do Senado, e Eduardo Cunha, presidente da Câmara.

A decisão por pedir a abertura de inquérito, em vez de oferecer imediatamente a denúncia, mereceu algumas críticas daqueles que consideram que as delações premiadas nas quais se baseia a lista de Janot já ofereceriam elementos suficientes para que se caracterize o crime. No entanto, a precaução do procurador-geral nos parece acertada. Com a abertura de inquérito, será possível aprofundar as investigações, incluindo elementos como quebras de sigilo e mandados de busca e apreensão de documentos, para embasar as informações dadas pelo doleiro Alberto Youssef e pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Mais importante que o modo como começa essa nova etapa é o modo como ela terminará. O Brasil precisa saber quem são os responsáveis pelo petrolão e qual o papel que cada um deles tinha no esquema: quem eram os mentores, os intermediários, os “carregadores de piano”. Os empresários e demais investigados presos em Curitiba não fizeram tudo sozinhos: a ação do “núcleo político”, para tomar emprestada uma expressão do processo do mensalão, é até mais importante para esclarecer como um escândalo dessas proporções foi possível.

Os empresários e demais investigados presos em Curitiba não fizeram tudo sozinhos: a ação do “núcleo político” é até mais importante para esclarecer como um escândalo dessas proporções foi possível.

À medida que as investigações prosseguirem, uma nomeação pendente ficará ainda mais importante. Ao contrário do que houve no mensalão, em que os réus foram julgados por todo o plenário do STF, políticos eventualmente denunciados pelo petrolão terão seu destino decidido pela 2.ª Turma da corte, formada atualmente por Carmen Lúcia, Celso de Mello, Gilmar Mendes e Teori Zavascki. Para completar a turma, falta o ministro que substituirá o aposentado Joaquim Barbosa, e que ainda não foi indicado por Dilma Rousseff. Nessas circunstâncias, é impossível não lembrar de um precedente preocupante. Em 2009, quando o julgamento do mensalão já estava em curso, Lula nomeou para o STF um ex-advogado do PT e ex-subordinado de José Dirceu na Casa Civil. Apesar desses vínculos, Dias Toffoli não se declarou impedido de participar do julgamento e seus votos ajudaram a criar o cenário que permitiu a alguns condenados entrar com os embargos infringentes – recursos que, no fim, ajudaram a reduzir suas penas.

A solidez das instituições brasileiras será testada mais uma vez. Por mais frustrantes que tenham sido alguns desfechos do julgamento do mensalão – com penas revisadas para colocar condenados em regime semiaberto e a recente extinção da pena de José Genoino, graças ao indulto de Natal da presidente Dilma –, é inegável que aquele julgamento representou um marco positivo para o Brasil. O atentado à democracia tramado por alguns dos principais nomes do PT, o verdadeiro golpismo contra o país (assim denunciado explicitamente pelo então presidente do STF, Carlos Ayres Britto), não ficou impune, por mais que vários setores do petismo tenham tentado tumultuar o processo, com eventos de desagravo aos então réus e acusações constantes de “julgamento político”. A estratégia já começou a ser repetida, com as tentativas de desmoralizar o juiz federal Sérgio Moro. Agora, o ministro Jaques Wagner, da Defesa, afirma que a investigação de políticos causará “turbulência” em um momento no qual “o país precisa de calma e tranquilidade”. Mas “calma e tranquilidade” o país só terá quando houver a convicção de que seu dinheiro não está sendo pilhado em esquemas como o mensalão e o petrolão. Até lá, que corruptos e corruptores saibam, sim, o que é turbulência.

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