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| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Ao divulgar os dados sobre o nível de emprego, na primeira semana deste mês, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a taxa de desempregados no fim do segundo trimestre de 2018 caiu para 12,4% em relação aos 104,8 milhões de pessoas que compõem a população economicamente ativa, o que dá 13 milhões de desempregados. Houve queda na taxa de desempregados em relação ao trimestre anterior – quando o desemprego estava em 12,7% –, mas o número de pessoas sem trabalho ainda é muito alto e se constitui num dos maiores flagelos sociais do país.

No fim do segundo trimestre do ano passado, o desemprego estava em 13%; o índice de 12,4% referente ao fim de junho passado revela pequena melhora (nos últimos 12 meses, o aumento de pessoas empregadas foi de 1,1%, equivalente a pouco mais de 1 milhão de trabalhadores), mas ainda muito longe da taxa de desemprego considerada razoável, que é de 4% ou 5% da população ativa. O Brasil continua sofrendo os efeitos amargos da queda do PIB durante os dois anos mais graves da recessão, 2015 e 2016, e da modesta recuperação de 1% em 2017. O otimismo para este ano foi dissipado, sobretudo porque a estimativa feita em janeiro passado, prevendo crescimento de 3,5% para 2018, vem sendo revista para baixo, em parte como consequência da greve dos caminhoneiros. Segundo as mais recentes previsões, 2018 terá um crescimento em torno de 1,5%.

A situação do emprego foi agravada também pela perda de capacidade de investimento do setor público

Vale mencionar que, ao iniciar um período recessivo, o emprego é uma das últimas variáveis econômicas a serem prejudicadas, sendo possível que, nos primeiros meses de queda do PIB, o desemprego não aumente na mesma proporção. No Brasil, isso foi especialmente verdadeiro a ponto de a presidente Dilma Rousseff ter dito e repetido na época que, “apesar da recessão, conseguimos segurar os empregos” – afirmação que foi desmentida mais adiante, quando o número de desempregados aumentou acentuadamente. Na mesma linha, quando a recessão acaba e o PIB começa a crescer, o nível de emprego é dos últimos segmentos a serem beneficiados, ou seja, a recuperação dos empregos perdidos demora mais e ocorre lentamente. Essa é uma das razões pelas quais o nível de emprego no Brasil não vem aumentando expressivamente.

Outro aspecto a ser considerado, embora de difícil mensuração, diz respeito à reestruturação do sistema produtivo que ocorre em face da necessidade de ajuste aos sacrifícios impostos pela recessão, quando muitas empresas, ao retomarem a produção após o fim do período recessivo, automatizam processos e incorporam novas tecnologias que requerem menor número de trabalhadores, o que contribui para reduzir a geração de empregos na fase de expansão do PIB pós-crise. No caso brasileiro, a situação do emprego foi agravada também pela perda de capacidade de investimento do setor público, pois o baixo volume de obras contratadas pelos municípios, estados e União contribui para a baixa geração de vagas nas empresas fornecedoras do governo. 

Leia também: Investimento e crescimento econômico (editorial de 5 de março de 2018)

Leia também: Desemprego 4.0 – não é pessimismo, é choque de realidade (artigo de Vinicius Maximiliano, publicado em 21 de dezembro de 2017)

Se a tudo isso for adicionado o fato de que o investimento estrangeiro em obras de infraestrutura e plantas empresariais no Brasil vem sendo muito abaixo da expectativa, está formado o quadro que explica o total de 13 milhões de desempregados e por que os empregos gerados nos últimos 12 meses ocorreram basicamente nos setores informais, sem carteira assinada. As estatísticas sobre o desemprego no Brasil precisam levar em conta outros fatores relevantes. Um é a existência de um contingente superior a 4 milhões de trabalhadores que o IBGE chama de “desalentados” por terem desistido de procurar emprego e, por isso, saem das estatísticas de desempregados; além de outros quase 5 milhões de subempregados, aqueles que não trabalham em jornada integral de 40 horas por semana. 

A recuperação do emprego no Brasil depende diretamente do crescimento do PIB, do aumento de investimentos pelo governo (o que exige ajuste fiscal, a fim de que o governo faça investimento com receitas tributárias e não com dívida) e do aumento do investimento estrangeiro direto. Sem isso, o Brasil terá de amargar elevadas taxas de desemprego por muitos anos.

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