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 | Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas
| Foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas

Apesar de o presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, terem recebido muitas bombas que ainda precisam desarmar, como a questão previdenciária e o alto desemprego, há algumas “heranças benditas” recebidas de Michel Temer e de seu trabalho para consertar o caos deixado por mais de uma década de petismo no poder. A inflação, que em 2017 chegou a ficar abaixo do piso da meta do Banco Central, fechou 2018 com números ligeiramente maiores, mas que também podemos considerar bons. O IPCA, índice oficial medido pelo IBGE, ficou em 3,75% no ano passado, exatamente a meio caminho entre o centro (4,5%) e o piso (3%) da meta.

Os benefícios de uma inflação baixa são mais que conhecidos. Ela preserva o poder de compra da população mais pobre, aquela cujo salário muitas vezes não chega ao fim do mês, impossibilitando a criação de uma reserva para os tempos de maior dificuldade. A inflação também funciona como um imposto disfarçado quando o governo repassa o seu custo à população – um exemplo dessa dinâmica é a defasagem no reajuste da tabela do Imposto de Renda Pessoa Física: quando a tabela não é reajustada de acordo com o IPCA, o governo pode até manter as mesmas alíquotas, mas vários trabalhadores que tiverem recebido apenas a reposição da inflação poderão mudar de faixa ou até mesmo deixar o status de isento.

A tranquilidade proporcionada pela inflação baixa é provisória

A inflação sob controle também dá alguma paz ao governo e ao setor produtivo, por meio da manutenção dos juros baixos. A Selic está hoje no menor valor da série histórica, 6,5% ao ano. A próxima reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), em fevereiro, provavelmente manterá a taxa, e o mercado financeiro aposta que 2019 terminará com uma Selic apenas ligeiramente maior que a atual. Juros baixos permitem aos empresários ampliar seus investimentos, uma condição essencial para o combate ao desemprego, que hoje é o maior mal que aflige nossa economia. O governo se beneficia duplamente: com o aumento na arrecadação decorrente do aquecimento da atividade econômica, e com a possibilidade de rolar sua dívida a um custo menor que o atual.

Mas a tranquilidade proporcionada pela inflação baixa é provisória. Se o governo não atacar de vez os problemas estruturais e que têm potencial de destruir a economia brasileira no médio e longo prazo – como a questão previdenciária, os sucessivos déficits primários e a dívida pública crescente, tanto em termos nominais quanto em proporção do PIB –, as condições para a volta da inflação estarão ali, esperando a primeira oportunidade para que o dragão surja com força. IPCA e juros baixos dão ao governo uma janela de oportunidade preciosa para aprovar as reformas que proporcionem saúde aos cofres públicos. É um tempo que não pode ser desperdiçado, pois, ainda que o cenário interno esteja mais estável, vencida a turbulência eleitoral de 2018, e as previsões de inflação na casa dos 4% se estendam até 2021, o cenário externo é bem mais incerto, por exemplo com os riscos de guerra comercial entre grandes potências.

Leia também: Sem ajuste fiscal, a inflação pode voltar com força (artigo de Karlo Marques Junior e Alejandro Cintado, publicado em 21 de novembro de 2018)

Leia também: A nova meta de inflação (editorial de 4 de julho de 2017)

Assim, não basta que o Banco Central continue se empenhando em manter a inflação em patamares aceitáveis para uma nação civilizada. É preciso que Executivo e Legislativo trabalhem na aprovação das reformas, e que o Poder Judiciário – que certamente será acionado por aqueles que se opõem ao ajuste fiscal – respeite a independência entre poderes e não crie empecilhos indevidos, como os que alguns ministros têm imposto ao bloquear privatizações sem justificativa plausível, ou ao patrocinar ameaças à liberdade econômica, como a manutenção do tabelamento do frete rodoviário. Melhor que comemorar a inflação baixa de agora é criar as condições para que ela permaneça baixa por muitos anos mais.

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