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Quando um líder governista admite que a situação da economia é tal que os adversários poderiam "nadar de braçada", e se surpreende que isso não tenha ocorrido, algo está errado com a oposição

Nunca antes na história deste país, a oposição foi tão inexpressiva quanto agora. Nem mesmo no auge do regime militar, tão poucas cadeiras foram ocupadas por parlamentares dispostos a cumprir o papel de fiscalizar criticamente a atuação do Executivo. Hoje, temos um Congresso funcionando sob pleno ambiente democrático – mas, dos seus 594 parlamentares (513 deputados e 81 senadores), apenas pouco mais de uma centena, se tanto, ocupa as bancadas dos partidos de oposição, o que também não é garantia de que, individualmente, exerçam seus mandatos com ânimo oposicionista.

Já tivemos no passado realidades bem distintas. Uma volta ao tempo nos levará à lembrança do radicalismo oposicionista que desembocou no trágico suicídio de Getúlio Vargas em 1954. Muitos viveram campanhas memoráveis como a das Diretas Já, de repúdio aos grilhões do regime militar. Testemunhamos também o impeachment do presidente Fernando Collor e, por fim, não se exclua o papel representado pela oposição até a chegada ao poder, em 2002, do ex-presidente Lula. Os traumas que eventualmente tenham provocado não tiram da existência de uma oposição organizada e consequente o mérito de ser instrumento de aperfeiçoamento da democracia.

Lamentavelmente, estamos hoje em tempos diferentes. Parece já não haver sequer disposição para o confronto político, ainda que limitado às ideias. Pelo contrário. Aos velhos e tão conhecidos métodos de cooptação de que o governo se utiliza para alargar ao infinito suas maiorias, somam-se os interesses particulares dos parlamentares, sempre ávidos em agradar para, em troca, gozar dos benefícios que o poder central lhes concede. É o resultado da reciprocidade tão bem explicitada há 30 anos pelo falecido deputado Roberto Cardoso Alves – líder de um tal "centrão" – que adaptou à política do adesismo sem fronteiras a frase de são Francisco de Assis: "É dando que se recebe".

Como "é dando que se recebe", o Executivo doa benesses na forma de liberação de emendas e cargos e, em compensação, recebe votos de apoio que lhe permitem aprovar o que bem quiser no Parlamento. Em sentido contrário, é dando seus votos em favor do governo que deputados e senadores recebem a contrapartida de que passam a se achar merecedores. Em nome desta "política", nem se fala em votos, porque sequer ousam assumir a tribuna para simples críticas à atuação do governo.

A tal ponto a inação oposicionista é grave e profunda que foi preciso que, dia desses, um espantado líder governista se regozijasse com o fato de a oposição não ter aproveitado a oportunidade de "nadar de braçada" diante dos números ruins da economia brasileira recém-revelados – inflação em alta, PIB sem sinais de crescimento, câmbio descontrolado, combustíveis em alta, Petrobras em queda... Números, diga-se, de responsabilidade da gestão errática da economia sob a presidente Dilma Rousseff e que, portanto, mereceriam toda a atenção crítica da oposição. Mas nada. Nem mesmo discursos.

Trata-se de um mal que se faz à democracia – sobretudo por se tratar de uma omissão absolutamente injustificada. Afinal, não estamos sob o tacão totalitário-demagógico de um Hugo Chávez, que espalhou a moda por outros países da América Latina, nem sob regime policial e de partido único à moda de Cuba. Temos voto livre, imprensa livre, opinião pública livre, Constituição em vigor, poderes republicanos em pleno gozo de suas prerrogativas. Entretanto, não temos oposição congressual, embora não faltem motivos para que ela se expresse com vigor e dê sua contribuição para a correção de rumos.

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