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Um dos candidatos à Presidência da República, já derrotado no primeiro turno, disse a quem quisesse ouvir, no Jornal Nacional, que privatizaria a Petrobras. Essa ideia já foi usada no passado pelo petismo para fazer terrorismo eleitoral contra seus adversários – que, ao contrário do pastor Everaldo, jamais haviam mencionado a possibilidade de vender a estatal petrolífera. Mas, se for confirmada a veracidade dos depoimentos do ex-diretor Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef, presos na Operação Lava Jato, ficará evidente que a Petrobras já estava "privatizada" havia muito tempo – não no papel, mas na prática, servindo aos interesses do PT e seus aliados.

Costa, que aderiu à delação premiada, contou à Justiça Federal do Paraná detalhes de como os contratos feitos pela Petrobras rendiam um adicional de 3%, divididos entre PT, PMDB e PP – a divisão do butim variava de acordo com a diretoria envolvida e com o partido responsável pela indicação do diretor. O ex-diretor deixou claro que a campanha eleitoral de 2010 foi abastecida, em parte, por esse dinheiro – os nomes só não vieram à tona porque se trata de pessoas com foro privilegiado. O Ministério Público já sabe quem são os envolvidos, que estão sendo investigados pelo Supremo Tribunal Federal.

E Youssef não poderia ser mais didático quando foi questionado pelo juiz Sérgio Moro a respeito do funcionamento do esquema. "Vou explicar para Vossa Excelência entender. O contrato é um só. Uma obra da Camargo Corrêa, R$ 3,48 bilhões, tá certo? Ela tinha, R$ 34 milhões ela tinha de pagar por aquela obra para o PP. Eu era responsável por essa parte. A outra parte eu não era responsável. Ele tinha de pagar mais 1%, mais outros R$ 34 milhões, ou 2%, no caso o Paulo Roberto [Costa] está dizendo, para outro operador, no caso, o João Vaccari", fazendo referência ao diretor financeiro do PT. Foi assim que bilhões de reais teriam sido desviados, com propinas pagas por 13 empresas. "Se ela [a empresa] não pagasse, tinha a ingerência política e do próprio diretor, que ela não fazia a obra se ela não pagasse", ainda acrescentou o doleiro.

As afirmações de Costa e Youssef vêm jogar mais gasolina na fogueira dos escândalos que assolam a Petrobras já há alguns anos. Há o prejuízo bilionário com a refinaria de Pasadena, no Texas, uma história que ainda segue mal contada, especialmente no que se refere ao conhecimento que os integrantes do Conselho de Administração (entre os quais estava a hoje presidente da República, então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff) tinham dos termos do contrato. Há o caso da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, que começou com o calote de Hugo Chávez (prejuízo com o qual o governo brasileiro arcou integralmente) e terminou com um superfaturamento que, nas contas do MP, chega a R$ 613 milhões. Há o uso político da empresa, que, para impedir uma disparada da inflação, há tempos paga para abastecer o tanque dos carros dos brasileiros, revendendo a preços menores gasolina comprada do exterior. Tanta irresponsabilidade fez da Petrobras, em outubro de 2013, a empresa não financeira mais endividada do mundo.

A conclusão é muito simples: uma empresa estatal está sendo colocada a serviço de uns poucos grupos políticos, enriquecendo-os, enquanto a própria companhia e seus acionistas minoritários pagam o prejuízo dos esquemas fraudulentos e da má administração. O discurso de "patrimônio do povo brasileiro" vira, assim, mera peça publicitária, porque na realidade a Petrobras já virou propriedade particular de seus saqueadores.

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