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Fila de candidatos a trabalho em supermercado: apesar da queda recente, desemprego segue próximo das máximas históricas.
Fila de candidatos a trabalho em supermercado: apesar da queda recente, desemprego segue próximo das máximas históricas.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

No fim de setembro, o governo divulgou balanço sobre o mercado de trabalho nos primeiros oito meses de 2019. Algumas estatísticas são animadoras, porém insuficientes para a reversão do grave desemprego que se abateu sobre o país desde 2014, principalmente em razão da forte recessão econômica dos anos 2015 e 2016. O otimismo vem do fato de que por cinco meses seguidos houve saldo positivo no emprego formal. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), houve aumento de 121.387 vagas em agosto, como resultado de admissões menos demissões. Foi o melhor agosto desde 2013.

O ano de 2019 apresenta um acumulado de 593.467 novos postos, contra 568.551 no mesmo período de 2018. Ou seja, está havendo recuperação, tímida, porém importante, principalmente porque em agosto deste ano o saldo positivo no nível de emprego se deu em seis setores econômicos: serviços (61.730 postos), comércio (23.626), indústria de transformação (19.517), construção civil (17.306), administração pública (1.391) e extrativa mineral (1.235). O saldo negativo se deu em dois setores: a agropecuária perdeu 3.341 postos e os serviços industriais de utilidade pública, apenas 77 postos. Para análise da trajetória econômica do país, vale mencionar que o setor de serviços tem seis subsetores, e todos eles apresentaram saldo positivo na geração de empregos: ensino; comercialização e administração de imóveis; serviços médicos, odontológicos e veterinários; serviços de alojamento, alimentação e reparação; transportes e comunicações; e instituições de crédito, seguros e capitalização. Além disso, todas as cinco regiões do país apresentaram saldo de emprego positivo em agosto, sendo que o Nordeste ficou com o melhor desempenho.

Os dados do Caged mostram recuperação na criação de postos de trabalho; ainda que ela não venha nos níveis elevados de que o país precisa, ao menos mostram trajetória de saída da recessão

Antes de extrair conclusões dos números divulgados, é necessário lembrar algumas premissas sobre o mercado de trabalho. Primeiro, a taxa de desemprego resulta da divisão do número de pessoas desempregadas pelo total da população economicamente ativa (aqueles em condições de trabalhar). Se a população aumenta e o número de pessoas trabalhando permanece o mesmo, a taxa de desemprego cresce mesmo que não ocorram demissões. Caso haja geração de empregos na mesma proporção do crescimento populacional, a taxa de desemprego permanece a mesma, apesar da melhoria no número de vagas.

Em segundo lugar, pode haver aumento do nível de emprego, mas, se as contratações se concentram em vagas de trabalho parcial (menos de 40 horas por semana), o tamanho da recuperação acaba sendo menor do que as estatísticas sugerem. A relação entre o crescimento do PIB e o aumento do emprego não é linear nem proporcional, sobretudo porque a recuperação econômica após períodos de recessão inclui ajustes nos processos produtivos, inovações e incorporação das últimas mudanças tecnológicas, o que leva empresas e setores inteiros a produzirem mais com menor quantidade de trabalhadores. Outro efeito que comumente ocorre é a recuperação do PIB em intensidade diferente nos diferentes setores, fazendo que a relação entre o tamanho dos setores econômicos se altere e mude a configuração do mercado de trabalho.

O nível de emprego e, por consequência, a taxa de desemprego estão entre as últimas variáveis econômicas a serem afetadas quando uma recessão se inicia, e podem demorar para apresentar recuperação quando a produção nacional é retomada. O IBGE fez revisão na estimativa da população brasileira e informou que o número de habitantes chegou a 210,1 milhões em 30 de junho passado – contra 208,5 milhões no fim de 2018 – e há 106,1 milhões de pessoas em condições de trabalhar. Esses números podem criar ilusões estatísticas, pois, apesar da melhoria na geração de empregos, as taxas de desemprego não cedem na mesma proporção.

De qualquer forma, os dados apresentados pelo Ministério da Economia, com base nas estatísticas oficiais do Caged, mostram recuperação na criação de postos de trabalho; ainda que ela não venha nos níveis elevados de que o país precisa, ao menos mostram trajetória de saída da recessão. Não é suficiente, mas os dados sugerem que os próximos anos podem ter crescimento do PIB a taxas bem mais elevadas e com redução significativa do desemprego. Nunca é demais repetir que PIB baixo e desemprego alto são os dois piores flagelos econômicos, os quais devem ser tratados com prioridade absoluta pelo governo e pelos políticos no Poder Legislativo, pois sem isso qualquer proposta de progresso torna-se difícil.

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