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| Foto: Jim Watson/AFP

O presidente Jair Bolsonaro encerrou sua visita oficial a Washington nesta terça-feira, quando encontrou o presidente norte-americano, Donald Trump. O convite foi feito por Trump um dia depois da posse de Bolsonaro, e seria irreal esperar que desta viagem saíssem grandes e numerosas mudanças na relação entre Brasil e Estados Unidos, que pode melhorar em muitos pontos. O encontro dos presidentes tem de ser encarado como um ponto de partida para que os países comecem a trabalhar juntos, e boa parte desse trabalho será feito não pelos mandatários, mas por ministros, secretários e outros integrantes dos principais escalões de governo.

Além das declarações de boas intenções, como o apoio de Trump ao Brasil para entrar na OCDE – o clube das nações mais desenvolvidas –, de mais concreto, houve apenas dois anúncios em temas secundários. O primeiro foi o acordo (que ainda dependerá de aprovação do Congresso) para que os norte-americanos possam fazer uso comercial da base de Alcântara, no Maranhão, um ponto privilegiado para o lançamento de foguetes e que é pouco aproveitado – segundo o Ministério da Defesa, o aluguel do local poderia render até US$ 10 bilhões ao ano. O segundo item foi a isenção de visto para turistas norte-americanos, canadenses, australianos e japoneses, sem a exigência de contrapartida idêntica por parte desses quatro países.

O aumento no fluxo comercial e um maior intercâmbio tecnológico são objetivos pelos quais vale a pena trabalhar arduamente

Por mais que o setor de turismo aguardasse ansiosamente essa liberação do visto, abrir mão do princípio da reciprocidade fragiliza a posição brasileira no cenário internacional. É verdade que não há cidadãos do mundo desenvolvido tentando entrar ilegalmente para trabalhar em países emergentes, enquanto o contrário é mais que verdadeiro e justifica políticas migratórias mais restritivas; mas apenas deixar de exigir o visto não fará muito pelo turismo nacional se outros problemas não forem resolvidos antes. Afinal, cidadãos europeus há muito tempo não precisam de visto para vir ao Brasil, e nem por isso eles estão invadindo nossos pontos turísticos. Sem redução nos custos internos e sem melhorias na infraestrutura precária, na segurança pública e na qualidade do serviço, nosso enorme potencial turístico continuará a ser subaproveitado, deixando o Brasil à margem de um mercado trilionário.

De qualquer forma, estes dois temas nem de longe constituem o coração da pauta em que Brasil e Estados Unidos precisam trabalhar. O incremento do comércio entre os dois países – mais necessário para nós que para os norte-americanos, que estão mais preocupados com a China – e a atração do investimento norte-americano para o Brasil são as chaves que Bolsonaro e os ministros que o acompanharam em Washington precisam girar para abrir novos horizontes ao desenvolvimento nacional.

Leia também: China ou Estados Unidos? (editorial de 17 de março de 2019)

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Não é uma conversa fácil. Do outro lado da mesa está um governo nitidamente protecionista, que já abandonou acordos comerciais, como a Parceria Transpacífico, e vem sobretaxando diversos produtos de vários países, inclusive de aliados, para conseguir que empresas multinacionais instalem ou ampliem unidades nos Estados Unidos e contratem trabalhadores norte-americanos. Assim como os europeus, os norte-americanos subsidiam pesadamente seu setor agrícola, um dos setores em que o Brasil mais se destaca. E Trump tem um enorme desprezo pelo sistema multilateral de comércio, enquanto o Brasil busca protagonismo na reforma da Organização Mundial de Comércio (OMC), assumindo a coordenação de um dos comitês temáticos.

Se a afinidade entre Trump e Bolsonaro em outros temas, como a defesa da democracia na América Latina – outro tema que esteve na pauta do encontro, devido ao caos venezuelano –, servir para que os dois presidentes comecem a se entender também nos temas econômicos, ministros como Paulo Guedes e Ernesto Araújo terão carta branca para elaborar, com seus colegas americanos, medidas concretas que aproximem Brasil e Estados Unidos. Para um país tão fechado como o Brasil, o aumento no fluxo comercial e um maior intercâmbio tecnológico são objetivos pelos quais vale a pena trabalhar arduamente, especialmente com um parceiro como os EUA.

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