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Marmelada na hora da morte mata, diz o surrado adágio. Apesar disso, políticos em campanha eleitoral não deixam de experimentar do "remédio" para prevenir uma eventual derrota ou, como última esperança, quando percebem que ela é inevitável. A marmelada é oferecida aos eleitores na forma de benesses, com sabor adequado para conquistar-lhes o coração, a mente e, naturalmente, seus preciosos votos.

Pululam exemplos desse tipo de oportunismo nas atuais campanhas nacional e estadual por parte dos que, ainda detentores do poder de manipular recursos públicos, buscam a reeleição. Talvez não cometam, nesta pressurosa faina pré-eleitoral, nenhuma ilegalidade capaz de impor-lhes as cominações previstas nos códigos penais, mas não se livram de julgamento quanto à moralidade dos seus atos e, muito menos, quanto à responsabilidade com que exercem seus cargos.

No plano federal, por exemplo, tivemos há poucas semanas uma inusitada antecipação do pagamento do 13.º salário para os aposentados. Não deixa de ser uma simpática e compreensiva atitude de quem concedeu o benefício, justificável diante do sofrimento por que passam os milhões de idosos que se iludiram com a facilidade do crédito consignado e que agora lhes é descontado dos seus parcos proventos. Por outro lado, é plausível imaginar que a súbita e inédita "bondade" tenha sido alimentada pela ansiedade pré-eleitoral que acomete os candidatos.

Pela mesma razão, vimos no Paraná o desmedido esforço que se fez para manter congelada a tarifa do transporte coletivo de Curitiba – assunto que interessa ao milhão de passageiros, em sua maioria eleitores, que poderiam manifestar seu agradecimento votando no candidato autor da fórmula mágica.

É bem verdade que o estratagema, que consistia em eliminar impostos sobre o combustível dos ônibus de modo a que pesasse menos na composição tarifária, não deu certo. Fracassou o leilão pelo qual o governo do estado pretendia comprar óleo diesel para repassá-lo mais barato à prefeitura de Curitiba e às empresas de transporte coletivo que servem a cidade. Portanto, a promessa não foi cumprida – o que, surpreendentemente (?), não impede seu autor, o candidato à reeleição, a insistir na afirmação de que a população de Curitiba goza do benefício.

Há também o recente caso da antecipação da formatura de 1.400 novos policiais militares, colocados abruptamente no serviço ativo sem que tivessem satisfeito todas as rigorosas exigências regulamentares. Das 1.300 horas/aula previstas para o curso de formação, perfizeram tão somente 750 horas/aula, sendo igualmente dispensados do estágio que lhes daria condições práticas para o exercício de sua perigosa missão de conter a violência das ruas. Tudo isso para permitir que, antes da eleição, a opinião pública fosse levada a acreditar estar o governo estadual sinceramente preocupado em melhorar a segurança da população. Pura propaganda.

Atitudes deste jaez são, para dizer o mínimo, irresponsáveis. Não condizem com o comportamento com que deveriam estar comprometidos aqueles que receberam do povo o múnus de representá-lo e de zelar pelo bem público. Irresponsabilidade que não demora a se evidenciar de variadas formas – algumas até trágicas. Como se deu com a lamentável ocorrência produzida em Guarapuava no último sábado, quando um infeliz e inexperiente soldado – desses formados às pressas – acabou por matar um pobre doente mental que impunha resistência à contenção policial.

Outra forma com que a irresponsabilidade se manifesta é pelo emprego inepto de recursos públicos, como o intentado no caso do congelamento da tarifa de ônibus. O "método" prevê a concessão de subsídio indireto, caracterizado pela renúncia fiscal por parte do estado – algo condenado por qualquer manual elementar sobre a moderna administração de finanças públicas. Alguém pagará pela "bondade", provavelmente na forma de deficiências em outros serviços públicos importantes – como educação, saúde ou segurança – para os quais será sonegado o recurso dos impostos aos quais o governo renunciou.

Há, portanto, além dos aspectos puramente administrativos a configurar o uso inadequado e inepto dos recursos públicos, a questão da má política, clara e intencionalmente voltada para a obtenção de vantagens que desequilibram o jogo eleitoral. As armas da demagogia e da marmelada são absolutamente condenáveis. Sobre elas, deve estar atenta e disposta a repudiá-las a opinião pública e o eleitorado consciente.

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