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| Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A inflação de março, divulgada na última terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), voltou a bater recordes. O índice de 0,09% é o menor para um mês de março desde a implantação do Plano Real, em 1994 – a mesma marca vale para o acumulado de 2018 (0,70% neste primeiro trimestre). O acumulado em 12 meses é de 2,68%, que também é o índice mais baixo da série histórica para o mês. Além disso, este é o nono mês consecutivo em que o IPCA acumulado fica abaixo de 3%, que é o piso da meta de inflação estabelecido pelo Banco Central – outro recorde para comemorar.

Novidade ainda mais positiva veio de outra estatística de inflação medida pelo IBGE, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Enquanto o IPCA considera os hábitos de consumo da população que ganha entre 1 e 40 salários mínimos, o INPC verifica o impacto dos preços sobre os brasileiros com renda mensal de 1 a 5 salários mínimos, ou seja, os mais pobres. E tanto o INPC do mês passado quanto os índices acumulados são ainda menores que o IPCA: 0,07% em março, 0,48% em 2018 e 1,56% nos últimos 12 meses.

O país continua flertando com o perigo no médio e longo prazo

A inflação é um fenômeno especialmente cruel para a população mais pobre, que não consegue proteger seu poder aquisitivo, pois ou não tem como economizar ou, quando sobra algum dinheiro no fim do mês, as opções disponíveis nem sempre oferecem rentabilidades dignas. A desaceleração só não é motivo para comemoração completa porque, como explicou Fernando Gonçalves, gerente da Coordenação de Índices de Preços do IBGE, ao apresentar os dados de março, parte desse resultado tem uma causa triste: a retração na demanda, consequência do desemprego ainda persistente e que é uma das “heranças malditas” da “nova matriz econômica” implantada pelo governo petista encerrado em 2016. Gonçalves ainda citou a indefinição política, neste ano eleitoral, como freio para o investimento, o que também tem impacto na demanda.

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No entanto, ainda que realmente haja incertezas no campo político, na economia é de esperar que as nuvens carregadas se dissipem. O Banco Central ganhou mais fôlego para continuar reduzindo os juros de forma consistente, sem voluntarismos. A Selic mais baixa é boa para o Tesouro, pois reduz o custo de sua dívida, e um impulso para os investimentos privados, ainda que o sistema bancário não tenha reduzido os seus juros para o consumidor final, seja pessoa física ou jurídica, no mesmo ritmo do Copom.

Ainda há muitas dúvidas sobre a dinâmica do IPCA com uma economia reaquecida – o governo trabalha com um crescimento de 3% no PIB em 2018, e as estimativas do mercado financeiro apontam para desempenho um pouco menor, na casa dos 2,8% –, e as reformas estruturais que permitirão um crescimento sustentado ainda não foram feitas. Já fazia algum tempo que o brasileiro não convivia com a inflação nesses patamares, mas isso não pode servir como motivo para acomodação: o país continua flertando com o perigo no médio e longo prazo.

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