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Os economistas usam a expressão "hiato de infraestrutura" para dizer que um país não cresce quanto quer, mas apenas quanto pode, e que um dos limitadores para o crescimento acelerado do Produto Interno Bruto é a incapacidade da economia em produzir a quantidade de bens e serviços demandados. Na base dessa incapacidade está a infraestrutura que, diante de um aumento da demanda, não consegue suportar o novo nível de produção exigida. Caso as pes­­soas, as empresas e o governo, em conjun­­to, aumentassem a procura por bens e serviços, na faixa dos 10%, as rodovias, os portos, os aeroportos e o sistema energético, só para ficar nesses setores, entrariam em colapso e a produção simplesmente seria insuficiente para atender à nova demanda agregada.

Para um leigo em economia é difícil entender a complexa teia dos modelos macroeconômicos que explicam os problemas e as li­­mitações do crescimento. Entretanto, quan­­do surge um exemplo concreto, como a imen­­sa fila de carros aguardando vagas no estacionamento do Aeroporto Afonso Pena, a população começa a entender o tal "hiato de in­­fraestrutura". Esse exemplo é apenas uma amostra do caos e a pergunta que fica é: se, mesmo diante da grave crise mundial que reduziu a atividade econômica, a infraestrutura brasileira dá mostras de esgotamento, como esperar que os investimentos necessários para atender ao crescimento dos próximos anos, inclusive para sediar a Copa do Mundo, serão efetivamente realizados? A resposta sugerida é: dificilmente serão realizados nos níveis que o país vai exigir, o que pode limitar e impedir um crescimento em porcentuais mais elevados.

Seria lamentável que o Brasil finalmente descobrisse sua vocação para crescer, mas que o déficit de investimentos em infraestrutura desperdiçasse mais uma oportunidade histórica para aumentar a produção e reduzir o nível de pobreza. As reportagens deste jornal sobre o problema do estrangulamento no aeroporto que serve a região de Curitiba representam um sério alerta para o déficit de investimento que o país poderá enfrentar e deveriam ser o ponto de partida para um debate entre governo, empresários e sociedade sobre como evitar que o caos realmente se instale. É nessa hora que a questão estatização versus privatização revela-se um falso dilema, apesar de os políticos no poder contribuírem para a má compreensão de tão relevante questão. O Brasil precisa de investimentos de todos quantos estejam dispostos a implantar projetos e tocar obras, independentemente da origem do investidor. Rejeitar investimentos em função da origem do capital é jogar contra o país, contra o crescimento e contra os pobres.

O Brasil padece do drama de depender exageradamente do setor público para investir na sua infraestrutura, pelo fato de, no passado, ter feito uma opção clara por estatizar quase todos os setores de base. Infelizmente, a sociedade não conseguiu entender bem que a estatização da infraestrutura limita o crescimento da economia, e a discussão continua atrasada e superada, no velho conflito entre privatismo e estatismo. O próprio presidente Lula tirou vantagens eleitorais do tema quan­­do acusou seu adversário da última eleição de ser um privatista, induzindo o eleitor a crer que se trata de um defeito. O governo não tem dinheiro para investir e não há saída senão atrair capitais privados nacionais e estrangeiros para as obras necessárias.

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