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A capacidade de o Brasil voltar a ser o país do futuro depende do povo brasileiro.
A capacidade de o Brasil voltar a ser o país do futuro depende do povo brasileiro.| Foto: André Borges/Agência Brasília

Os graves problemas sociais iniciados em março deste ano deixaram muita gente preocupada com os rumos do país. Por um lado, uma pandemia grave, que já vitimou mais de 30 mil brasileiros e impôs medidas severas de isolamento social, contribuindo para o fechamento de muitas empresas e a perda de milhões de postos de trabalho. Por outro, uma crise institucional sem precedentes, que opôs os três Poderes em sucessivos episódios. Ainda assim, a esperança do brasileiro no futuro parece não ter sido abalada e a maior parte de nós ainda vê com bons olhos os dias que virão.

Pelo menos é o que indica a pesquisa “Sentimento em relação ao Brasil”, realizada pelo Instituto Datafolha, entre os dias 25 e 26 de maio de 2020, que entrevistou 2.069 brasileiros adultos. Na pesquisa, cada um dos entrevistados era confrontado com pares de sentimentos em relação ao país e deveria apontar o que sentiam atualmente. Respectivamente, raiva x tranquilidade, ânimo x desânimo, com medo do futuro x com confiança no futuro, tristeza x felicidade, insegurança x segurança, com mais medo que esperança x com mais esperança que medo. O levantamento vem sendo realizado desde 2018, com edições no início e no final de outubro daquele ano, uma em julho de 2019 e outra no final de maio de 2020.

Desde o seu início, chama a atenção a predominância de sentimentos ruins em relação ao país, que adentrava um ano eleitoral após o rescaldo de uma grave crise social, ética, política, econômica e institucional. Em quatro anos de sucessivos escândalos de corrupção, os brasileiros viram as maiores estatais do país depredadas pelos partidos no poder, foram às ruas para lutar pela retirada de uma presidente e presenciaram o seu sucessor atuar com práticas semelhantes, aliado a muitos investigados pelos mesmos escândalos que grassaram na era petista. Com um país com homicídios que margeavam a casa dos 60.000, numa economia estagnada e sem qualquer sinal de renovação política no horizonte próximo, os sentimentos negativos grassavam então.

Em 2 de outubro de 2018, entre os brasileiros que possuíam telefone celular, predominavam os sentimentos de insegurança (88%), tristeza (79%), desânimo (78%), raiva (68%) e mais medo do que esperança (59%). Quando se considera o sentimento de orgulho em oposição à vergonha, único que na pesquisa tem uma série histórica que remonta aos anos 2000, chama atenção que o percentual de brasileiros que sentia mais vergonha tenha se equiparado aos orgulhosos em junho de 2017, com 47% de envergonhados frente a 50% dos orgulhosos.

Desde então, os sentimentos positivos vêm ganhando terreno e mesmo os últimos três meses de fortes convulsões não parecem ter abalado a tendência. O percentual de brasileiros que sente mais orgulho do que vergonha saltou para 67% no último levantamento, ainda que represente uma baixa frente ao anterior sobre o tema, feito no início de dezembro de 2019, quando chegou a 76%. Enquanto isso, o percentual dos que sentem mais vergonha do que orgulho caiu para 29%, ainda que tendo sofrido um leve aumento em relação ao anterior, em que estava em 22%.

Em relação aos demais pares de sentimentos, segundo a pesquisa, atualmente 69% se sentem inseguros em relação ao país, 63% se sentem triste, 59% desanimados e 42% com raiva. Os percentuais são altos e apontariam para uma situação de perda de confiança no país, se olhássemos apenas para os dados dissociados da série histórica. Esse conjunto de sentimentos negativos em relação ao próprio país está longe de ser bom. Porém, quando temos em vista os dados da mesma pesquisa realizada em 2 de outubro de 2018, o cenário era ainda pior, com 88% dos brasileiros se sentindo inseguros em relação ao país, 79% tristes, 78% desanimados e 68% com raiva. Entre 2018 e 2020, sentimentos positivos como tranquilidade saltaram de 27% para 52% em 2020; ânimo, de 21% para 39%; confiança, de 36% para 41%; felicidade, de 18% para 34%; segurança, de 11% para 30%; e mais esperança do que medo, de 40% para 53%.

É esperado que o quadro na saúde pública encontre alguma melhora nos próximos meses. Já existem indícios de estagnação na ocupação dos leitos de UTI em muitos estados e, em outros, os atendimentos diários de novos casos de coronavírus começam a reduzir. Logicamente, o número de brasileiros mortos não vai deixar que o país se esqueça daquela que foi uma das maiores tragédias da saúde pública do último século. O sistema de saúde do país como um todo deverá se tornar objeto de debate e muita coisa precisa ser melhorada para que eventos assim não se repitam no futuro.

No campo econômico, há sinais preocupantes de uma depressão, com uma curva de recuperação que divide muitos especialistas em termos da sua temporalidade. E a presente crise institucional, se parece ter se arrefecido nos últimos dias, ainda não permite prenunciar um futuro de maior harmonia entre os Poderes da República. Porém, no plano de fundo de todos esses problemas, existe um povo que não deu sinais de esmorecer sua esperança num futuro melhor.

Cada vez mais brasileiros apostam nisso e essa simples confiança é o que move a iniciativa pessoal, a liberdade exploradora e criativa que constitui a mola do desenvolvimento. Quanto mais pessoas se sentirem impregnadas desse e de outros sentimentos positivos, mais será possível caminharmos para o aprimoramento da sociedade nos diversos campos de atuação humana, começando pela economia, passando pela política e desaguando nas instituições. A capacidade de o Brasil voltar a ser o país do futuro depende do povo brasileiro, que já se provou digno em outros momentos difíceis da nossa história.

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