No cinquentenário da Guerra do Yom Kippur, quando Egito e Síria se aproveitaram da distração causada por um feriado religioso judeu para lançar um ataque, mais uma vez Israel se vê em guerra. Agora, a agressão não vem pela mão de Estados nacionais; é obra do extremismo islâmico do Hamas, que, por mais que hoje tenha funções administrativas ao governar a Faixa de Gaza, jamais abandonou sua essência terrorista. Neste fim de semana, em uma rara falha da inteligência israelense – comparada pela imprensa local à de 1973 –, e também durante um feriado religioso, o Simchat Torah, o Hamas provocou o maior morticínio de civis judeus em um único dia desde o Holocausto ao lançar milhares de foguetes contra cidades israelenses e realizar inéditas incursões por terra, atacando áreas urbanas e instalações militares, ação que se mostrou muito mais letal que o costumeiro uso dos foguetes. Até o fim da tarde desta segunda-feira, as vítimas do lado israelense já chegavam a 900 mortos, com milhares de feridos e outras centenas de israelenses – tanto militares quanto civis, incluindo crianças – tendo sido sequestrados pelo Hamas; os reféns provavelmente serão usados em negociações para a libertação de terroristas islâmicos detidos.
As forças armadas israelenses recuperaram o território invadido pelo Hamas, com os terroristas retornando à Faixa de Gaza; imediatamente após o ataque, o governo israelense declarou estado de guerra, o que não fazia desde 1973, e passou a realizar ataques aéreos contra instalações dos extremistas em Gaza, tendo como resultado outras centenas de mortos do lado palestino; até o fim da tarde de segunda-feira, não chegou a haver uma invasão terrestre das forças israelenses em território palestino, mas esta é uma hipótese que não está fora de cogitação. Além disso, Israel anunciou um “cerco total” a Gaza, impedindo a entrada de combustível e o fornecimento de eletricidade. Outro grupo terrorista islâmico, o Hezbollah, que atua no Líbano, também aproveitou a ocasião para atacar o norte de Israel, mas em uma escala muito menor.
O Hamas não apenas odeia os judeus, mas também despreza o próprio povo pelo qual diz combater; afinal, é o Hamas, e não Israel, quem coloca os palestinos na linha de fogo ao colocar suas instalações em áreas densamente povoadas
Basta uma breve passada de olhos pelas imagens do ataque do Hamas para que uma conclusão se imponha: estamos diante de um ato de barbárie. Não há justificativa plausível – nem mesmo eventuais excessos cometidos por colonos judeus na Cisjordânia – para as cenas, muitas delas divulgadas pelos próprios extremistas, de fuzilamento de centenas de jovens durante uma rave, ou de famílias judias mantidas reféns, ou da jovem alemã morta e exibida como troféu, despida, sobre uma picape. Como não há explicação possível para a relutância de governos e setores da opinião pública em chamar de “terroristas” os perpetradores deste ataque. Não é uma questão de ideologia, mas de bom senso, até mesmo de humanidade.
Diante de uma ameaça dessas dimensões, Israel tem todo o direito de se defender, inclusive a ponto de tentar buscar a aniquilação completa do Hamas. Esta missão, no entanto, será quase impossível de realizar pela via militar. Isso porque, entre os inúmeros crimes de guerra cometidos pelo Hamas, está o de usar os próprios civis palestinos como escudos humanos. O grupo terrorista, que atua em uma das áreas mais densamente povoadas do mundo, emprega até mesmo hospitais e escolas como base para suas atividades. Por mais que Israel tente minimizar as mortes de civis em seus ataques aéreos, por exemplo emitindo avisos antes dos bombardeios, elas continuarão ocorrendo em número considerável. Isso mostra que o Hamas não apenas odeia os judeus, mas também despreza o próprio povo pelo qual diz combater; afinal, é o Hamas, e não Israel, quem coloca os palestinos na linha de fogo, ciente de que cada caixão contendo um civil palestino, especialmente uma criança, é arma poderosa na guerra midiática contra Israel e chamariz para novas adesões ao extremismo.
Os desdobramentos do ataque terrorista e da resposta israelense têm dimensões que vão muito além da região conflagrada, pois há um delicadíssimo equilíbrio geopolítico em jogo. A escolha do momento ideal para o ataque terrorista não se resume a uma questão de aniversários redondos; tem muito mais a ver com o fato de Israel estar assinando acordos com várias nações do Oriente Médio, com grandes chances de a Arábia Saudita ser a próxima delas. A normalização de relações diplomáticas entre o Estado judeu e países árabes isolaria a autocracia teocrática dos aiatolás iranianos. Isso explica que o Irã, fazendo jus à fama de Estado financiador do terrorismo, tenha apoiado ativamente a organização do ataque deste fim de semana, como admitiram os próprios líderes do Hamas. As inevitáveis cenas da resposta israelense contra os terroristas tornarão insustentável, dento dos países árabes, qualquer postura de conciliação com Israel no futuro próximo, afastando ainda mais a chance de uma convivência pacífica. A paz duradoura sempre deverá ser o objetivo final, e ela será uma construção global, sendo possível apenas quando os principais atores mostrarem disposição para negociar e fazer concessões mútuas – o que, evidentemente, não é o caso do Hamas – e quando a comunidade internacional se unir em torno da condenação firme àquilo que é intolerável.
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