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Bolsonaro na ONU: o que o presidente disse na Assembleia Geral das Nações Unidas em 2020
Bolsonaro no telão do plenário da ONU, em vídeo gravado para ser exibido na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas.| Foto: Reprodução/ONU TV

Nesta terça-feira, o presidente Jair Bolsonaro deu continuidade a uma tradição que remonta ao início da Organização das Nações Unidas, 75 anos atrás: é sempre o discurso do chefe de Estado brasileiro que dá início aos debates da Assembleia Geral. O jubileu deveria ser uma ocasião festiva, levando ainda mais líderes mundiais a Nova York que de costume, mas a pandemia do coronavírus forçou a sessão a ter apenas discursos gravados e transmitidos por vídeo. A Covid-19, na fala de Bolsonaro, dividiu o centro das atenções com a questão ambiental.

A escolha dos dois principais temas chega a ser natural, dada a dimensão mundial da pandemia e a pressão internacional sobre o Brasil diante do recrudescimento dos focos de incêndio na Amazônia e no Pantanal. Ao falar sobre o coronavírus, eximir-se de responsabilidade quanto a decisões sobre isolamento social e medidas restritivas (ocasião em que distorceu o sentido da decisão do STF sobre a competência conjunta de União, estados e municípios) e defender ações como o auxílio emergencial, no entanto, Bolsonaro deu a impressão de estar se dirigindo mais ao público interno que ao estrangeiro. Por mais que o Brasil esteja entre os líderes mundiais em números absolutos de casos e mortes, até pelo tamanho de sua população, não está havendo exatamente uma cobrança internacional sobre o presidente brasileiro; fora as absurdas acusações de “genocídio” rapidamente descartadas pelo Tribunal Penal Internacional, o que tem havido é principalmente o espaço dado a críticos do presidente por uma imprensa de viés mais à esquerda.

Será justamente o agronegócio brasileiro a principal vítima caso o mundo se convença de que o Brasil não está fazendo o suficiente por suas florestas

Situação bastante diferente é o caso do meio ambiente, tema que já chegou a ser usado até mesmo em uma tentativa de bombardear o acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, no ano passado. Sem arroubos como os de Paulo Guedes, que em agosto afirmou que os norte-americanos só estavam preocupados com as florestas brasileiras porque já haviam desmatado as deles, Bolsonaro defendeu o combate ao desmatamento ilegal, mas também disse haver uma “campanha de desinformação” motivada pelo desempenho do agronegócio brasileiro, uma das áreas em que o Brasil enfrenta as maiores resistências protecionistas mundo afora.

No entanto, apenas alegar que o Brasil é vítima de interesses escusos estrangeiros não será suficiente para convencer a comunidade internacional. Mesmo dentro do governo há alas que pressionam por uma resposta mais efetiva contra as queimadas e o desmatamento, pois será justamente o agronegócio brasileiro a principal vítima caso o mundo se convença de que o Brasil não está fazendo o suficiente por suas florestas e feche suas portas aos produtos brasileiros. Infelizmente, neste ponto Bolsonaro ainda não tem resultados concretos para mostrar além da promessa de firmeza contra o desmatamento ilegal.

Por fim, o presidente ainda tratou de temas de alcance regional e global, ressaltando o papel do Brasil na construção de iniciativas de paz e saudando os recentes entendimentos entre Israel e nações árabes como o Bahrein e os Emirados Árabes Unidos. Houve, ainda, tempo para a defesa dos direitos humanos, especialmente da liberdade religiosa; para críticas à ditadura de Nicolás Maduro na Venezuela; e para temas ligados à cooperação internacional, como a reforma da Organização Mundial do Comércio.

Que há um esforço claro da parte do governo brasileiro de buscar maior inserção internacional é evidente. Bolsonaro, em seu discurso, adequou-se às circunstâncias, adotando uma postura mais defensiva devido à pressão na questão ambiental, que continua sendo a pedra no sapato brasileiro diante da comunidade global. O discurso não fugiu do que se esperaria em uma ocasião como essa, mas o que realmente abrirá as portas do mundo ao Brasil como ator global relevante são as ações, mais que as palavras.

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