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O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante audiência na Câmara dos Deputados sobre o coronavírus.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante audiência na Câmara dos Deputados sobre o coronavírus.| Foto: Agência Câmara

Quando o Brasil ainda tinha registrado apenas dois casos confirmados do coronavírus, o Ministério da Saúde e do mundo acadêmico nacional já se moviam de forma condizente com o tamanho do desafio que se aproximava. Pesquisadores brasileiros levaram 48 e 24 horas, respectivamente, para sequenciar o genoma dos vírus que infectaram os dois pacientes, descobrindo que se tratava de cepas diferentes. O governo colocou no ar todo um arsenal de ferramentas on-line para informar a população: aplicativos para celular, o site do Ministério da Saúde e seu canal no YouTube, e até um número especial de WhatsApp trazem dicas para se prevenir, identificar sintomas e, o que é igualmente importante, desmentir notícias falsas a respeito da doença.

Com o reconhecimento – tardio, segundo o ministro Luiz Henrique Mandetta – por parte da Organização Mundial de Saúde de que o Covid-19 se tornou uma pandemia, o governo já anunciou um novo plano, que enfatiza tanto medidas para tentar conter a disseminação do vírus no Brasil quanto determinações para o atendimento dos doentes. Mandetta confirmou, por exemplo, o cronograma para a antecipação da campanha de vacinação contra a gripe – uma medida que não combate diretamente o coronavírus, mas deve evitar que o sistema de saúde acabe sobrecarregado com pacientes das duas doenças.

Um dos grandes desafios após a declaração da pandemia é manter o nível adequado de alerta na população, sem pânico desnecessário

O colapso dos sistemas de saúde é uma possibilidade que não pode ser tratada com ligeireza. Apesar da baixa letalidade entre a população em geral, o coronavírus é altamente contagioso e especialmente agressivo contra os mais idosos e nos casos em que o paciente já tem outras doenças, especialmente as cardiovasculares. Esses casos exigiriam internação, em vez do mero atendimento em unidades de saúde e um tratamento que poderia ser realizado de forma domiciliar. “Você tem um começo dos casos reportados, mas logo depois uma espiral de casos, que leva muitas pessoas aos ambientes hospitalares”, afirmou Mandetta durante audiência na Câmara dos Deputados, nesta quarta-feira.

A pressão sobre a rede hospitalar já se faz sentir na Itália, onde a Lombardia – a região mais afetada pela doença – teve de separar 18 hospitais e outras unidades de saúde para atender todas as outras emergências, deixando o restante das instalações apenas para atender pacientes com a Covid-19. Como resultado, situações graves, como ataques cardíacos, estão levando muito mais tempo que o normal para serem processados. Em uma situação extrema, o número de pacientes graves com o coronavírus superaria a oferta de leitos disponíveis em hospitais e UTIs, forçando os profissionais a, literalmente, escolher quem tratar e quem deixar à própria sorte. Para tentar reverter a curva de contaminação, o governo italiano colocou o país inteiro em quarentena, restringindo ao máximo os deslocamentos internos, impedindo eventos com aglomeração de pessoas, suspendendo aulas e estipulando horários para estabelecimentos como bares e restaurantes.

Durante o anúncio da OMS, os diretores do órgão insistiram que classificar o coronavírus como pandemia não significa que os esforços para conter a disseminação da doença devem ser abandonados, como se o mundo houvesse jogado a toalha quanto a isso e agora tivesse de se limitar a evitar mortes e a saturação do sistema de saúde. Michael Ryan, diretor-executivo do Programa de Emergências da OMS, disse que medidas restritivas como as adotadas na Itália não terão grande impacto em países com poucos casos da doença. De fato, há uma série de outras atitudes menos drásticas que podem ser tomadas, algumas das quais foram mencionadas por Mandetta em sua apresentação na Câmara, como incentivar o trabalho em casa onde isso for possível, ou adotar horários de trabalho diferenciados para reduzir a aglomeração de pessoas nos horários de pico do transporte público.

Um dos grandes desafios após a declaração da pandemia é manter o nível adequado de alerta na população, sem pânico desnecessário, mas com forte ênfase nas medidas de prevenção e na resposta aos casos confirmados da doença. As autoridades brasileiras na área da saúde, até agora, têm se portado bem e demonstrado consciência da gravidade da situação.

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