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| Foto: Lineu Filho/Gazeta do Povo

Uma inserção internacional forte é chave para uma retomada consistente do crescimento econômico no Brasil e para que nos tornemos uma nação próspera. Mas, para tornar o produto brasileiro bem-vindo no exterior e fazer do um país um destino atrativo para investimentos, é preciso demonstrar competitividade: precisa valer a pena, para os estrangeiros, investir aqui ou adquirir o que é feito em nosso território. Mas competitividade não tem sido nosso forte. O International Institute for Management Development (IMD), com sede na Suíça, divulgou dias atrás seu ranking anual de competitividade, cuja elaboração tem como parceira a Fundação Dom Cabral, e os resultados são desastrosos: dos 63 países avaliados, apenas a Mongólia e a falida Venezuela estão pior que o Brasil.

Na edição 2016 da pesquisa, o Brasil já estava mal, ocupando o 57.º lugar. Analisando os quatro pilares básicos usados pelo IMD para medir a competitividade, o país perdeu quatro posições em performance econômica (de 55.º lugar em 2016 para 59.º em 2017), eficiência do governo (61.º para 62.º) e infraestrutura (46.º para 51.º). Houve apenas uma ligeira melhora em eficiência empresarial (51.º para 49.º). Mas esses quatro grandes grupos se subdividem em vários outros, e alguns desses indicadores mostram com ainda mais clareza o tamanho do problema: o Brasil amarga o penúltimo lugar em dois itens, corrupção e qualidade da educação. Só isso já diz muito sobre o país.

Altos graus de liberdade econômica são essenciais para que um país seja próspero

E pensar que a queda de 2016 para 2017 não é um fenômeno isolado: na verdade, o Brasil está em queda livre no ranking do IMD desde que atingiu sua melhor colocação, um mediano 38.º lugar, em 2010. De lá para cá o país só perdeu posições. E que ninguém argumente que, nesse período – que coincide com o início do governo Dilma e o reforço na “nova matriz econômica” –, o Brasil avançou, mas outros países evoluíram mais rapidamente e nos ultrapassaram: nosso caso não é nem de imobilidade, mas de desastre puro, evidenciado pelos 14 milhões de desempregados, pela maior recessão da história, pela inflação que superou os dois dígitos em 2016. A “herança maldita” do governo petista continua a cobrar seu preço, e seria ingenuidade achar que tamanho estrago seria revertido em tão pouco tempo, apesar do trabalho da equipe econômica de Michel Temer. Infelizmente, no entanto, o atual governo tem, sim, sua parcela de culpa ao não extirpar de vez a corrupção em sua estrutura, incluindo nos altos escalões – ainda que a pesquisa tenha sido feita antes do estouro do escândalo da delação de Joesley Batista.

O espanhol Arturo Bris, diretor do estudo, afirmou à BBC Brasil que “o Brasil é o caso clássico em que o setor público é um obstáculo à competitividade do país”. De fato: nos últimos anos, vigorou uma convicção torta segundo a qual é o Estado o grande promotor do desenvolvimento econômico. Como consequência, por um lado o governo resolveu assumir o protagonismo (metendo os pés pelas mãos), e por outro complicou demais a vida dos atores privados. Basta ver as distorções de mercado introduzidas pela política de “campeões nacionais”, a relutância em conceder à iniciativa privada a infraestrutura aeroportuária e o apego a regulações excessivas que paralisam a inovação e o empreendedorismo.

Leia também:  Competitividade em marcha a ré (editorial de 7 de outubro de 2016)

Leia também:Eficiência para a competitividade (artigo de Carlos Rodolfo Schneider, publicado em 11 de setembro de 2014)

Basta ver os líderes do ranking de competitividade do IMD para matar a charada: altos graus de liberdade econômica são essenciais para que um país seja próspero. Mas Bris ainda afirma que, no Brasil, abater a corrupção endêmica é prioridade. Reformas, como a trabalhista e a previdenciária, são fundamentais; mas o mercado não voltará a confiar no Brasil se as autoridades continuarem a usar o gigantismo do Estado para pilhar, desviar, roubar, seja em causa própria, seja em nome de um projeto de poder.

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