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Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, foi o destaque na sétima rodada de concessão de terminais aéreos, realizada em 18 de agosto.
Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, foi o destaque na sétima rodada de concessão de terminais aéreos, realizada em 18 de agosto.| Foto: Divulgação/Ministério da Infraestrutura

A incerteza quanto aos rumos da economia global, cada vez mais abalada pela inflação e por perspectivas ruins de crescimento, e a imprevisibilidade do cenário eleitoral brasileiro impediram que a sétima rodada de leilões de aeroportos fosse mais concorrida, mesmo incluindo uma das principais “joias da coroa” do setor aéreo nacional, o aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Mesmo assim, o resultado foi bastante positivo: o bloco que contou com o terminal paulistano e outros 10 aeroportos foi arrematado pela espanhola Aena, a única a apresentar oferta, com ágio de 231% em relação ao lance mínimo. O leilão ainda contou com dois “miniblocos”: os aeroportos do Campo de Marte (São Paulo) e Jacarepaguá (Rio), voltados à aviação executiva, ficaram com o fundo de investimentos XP Infra IV FIP-IE; e o único bloco a ter disputa, entre os franceses da Vinci e os brasileiros da Novo Norte, terminou com vitória brasileira para os aeroportos de Belém (PA) e Macapá (AP).

O bloco que inclui Congonhas também tem três aeroportos no Mato Grosso do Sul (Campo Grande, Corumbá e Ponta Porã), quatro no Pará (Santarém, Marabá, Paraupebas e Altamira) e três em Minas Gerais (Uberlândia, Montes Claros e Uberaba). Todos eles terão de receber investimentos, no modelo criado durante o governo de Michel Temer e mantido por Jair Bolsonaro. O número pode até dar a impressão de que o bloco teria osso demais para pouco filé, mas Congonhas é o segundo aeroporto mais movimentado do país em número de passageiros, atrás apenas de Guarulhos; além disso, alguns dos terminais menores são pontos de entrada para destinos turísticos consolidados ou em ascensão, especialmente no Pantanal e na região amazônica; ou atendem regiões de forte desenvolvimento econômico, como o Triângulo Mineiro.

A modernização dos aeroportos nacionais é essencial para que o Brasil possa suprir a demanda presente e futura por transporte aéreo, seja em viagens de negócios, seja para fortalecer o turismo

Com esta sétima rodada de concessões no setor aeroportuário, a parcela do tráfego de passageiros circulando por aeroportos privatizados subirá para cerca de 90%. Restam apenas três terminais relevantes ainda sem administrador privado: o Santos Dumont, no Rio, foi retirado desta rodada para ser licitado junto com o Galeão, cuja concessão foi devolvida no início deste ano – mesma situação de Viracopos, em Campinas (SP), cuja concessionária está em processo de recuperação judicial, tendo acusado o governo federal de não ter cumprido obrigações importantes do contrato. Como nenhum dos três aeroportos deve ser leiloado este ano, seu futuro depende da orientação econômica do candidato que vencer o pleito presidencial de outubro.

O setor de transporte aéreo de passageiros foi um dos mais afetados durante a pandemia, e sua recuperação vem ocorrendo com intensidade tão inesperada que a Europa vem enfrentando um caos aéreo. No Brasil, mesmo com a recomposição das malhas aéreas reduzidas nos dois últimos anos, a demanda por passagens é grande o suficiente para figurar ao lado do aumento de custos de operação (como o combustível de aviação) entre as principais causas da disparada dos preços dos bilhetes – eles registram alta de 77,68% no acumulado de 12 meses até julho, segundo o IBGE, que calcula o IPCA, índice oficial de inflação. Apenas no mês passado, enquanto o índice geral teve deflação, as passagens subiram mais 8,02%.

A modernização dos aeroportos nacionais é essencial para que o país possa suprir a demanda presente e futura por transporte aéreo, seja em viagens de negócios, seja para fortalecer o turismo – a título de comparação, usando números pré-pandemia da Organização Mundial do Turismo, da ONU, em 2019 o Brasil registrou 6,4 milhões de visitantes estrangeiros; se o país recebesse fluxo semelhante ao da Turquia (51 milhões) ou da Tailândia (40 milhões), nossos aeroportos já teriam entrado em colapso. O modelo de blocos adotado desde 2017 ainda tem o potencial de impulsionar a aviação regional, já que os administradores de grandes terminais também precisam investir e melhorar aeroportos em cidades menores. Com aeroportos melhores e mais incentivo à entrada de novos competidores no ramo do transporte aéreo, o Brasil tem a chance de destravar outro importante gargalo da infraestrutura nacional.

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