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O fim do ciclo de queda dos juros
| Foto: Rafael Neddermeyer/Fotos Públicas

O ciclo de queda nos juros, que trouxe a Selic para o menor patamar em mais de duas décadas, está chegando ao fim. É o que afirma o comunicado divulgado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central após sua mais recente reunião, em que a taxa Selic teve nova redução, de 0,25 ponto porcentual, caindo para 4,25% ao ano. A decisão foi unânime – como, aliás, tem ocorrido ao longo deste processo de redução dos juros –, mas o texto afirma que, “considerando os efeitos defasados do ciclo de afrouxamento iniciado em julho de 2019, o Comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária”.

Se novos cortes estão descartados no futuro próximo, a não ser que circunstâncias extraordinárias o exijam, o texto afirma o que precisa ser feito para que os juros pelo menos se mantenham no patamar atual, que já oferece um incentivo razoável aos investimentos. O primeiro fator, evidentemente, é a inflação, que continua sob controle – o IPCA de janeiro, divulgado nesta sexta-feira, foi o menor desde o início do Plano Real, graças ao recuo no preço da carne, um dos vilões do IPCA do ano passado. A ociosidade apontada pelo comunicado é um fator que pode manter os preços comportados, impedindo uma disparada causada pelo aumento da demanda – a não ser que a retomada da economia esteja mais acelerada do que parece, ou que ela ganhe velocidade em breve. O Copom também afirma que “o atual grau de estímulo monetário, que atua com defasagens sobre a economia, pode elevar a trajetória da inflação acima do esperado no horizonte relevante para a política monetária”. Alguns números recentes, como o da produção industrial, no entanto, parecem manter afastada essa possibilidade no momento.

Com o Banco Central promovendo o estímulo monetário que a situação atual da economia pede, é preciso que Executivo e Legislativo sigam trabalhando pelas reformas

Além do cenário externo, que vive instabilidades devidas à epidemia de coronavírus, mas que por ora o Copom enxerga com menos preocupação, o outro fator de risco é a “eventual frustração em relação à continuidade das reformas e à perseverança nos ajustes necessários na economia brasileira”. Com a reforma da Previdência aprovada, os membros do comitê lembram que o ajuste fiscal não pode parar ali, sendo necessárias outras mudanças estruturais na maneira como o Estado brasileiro arrecada e gasta. Se depender tanto do governo quanto do Congresso, o primeiro semestre deste ano verá a tramitação das PECs do Plano Mais Brasil, da reforma administrativa e da reforma tributária. Esta, ainda que não reduza a carga tributária retirada dos cidadãos e do setor produtivo, deve trazer uma simplificação de efeitos extremamente benéficos; aquelas reorganizarão a dinâmica do gasto público, com ferramentas de gestão que permitirão a União, estados e municípios administrar melhor o dinheiro do contribuinte.

Assim, descartados solavancos mais graves – como, por exemplo, um impacto mais severo do coronavírus, o recrudescimento da guerra comercial entre grandes potências ou algum inesperado choque de demanda –, a Selic deve permanecer nos patamares atuais pelo menos até o fim deste ano, com a preocupação se voltando para 2021. Um dos cenários mencionados no comunicado menciona uma Selic de 4,25% no fim deste ano e de 6% no fim do próximo ano. Se a atividade econômica finalmente decolar e o estímulo econômico se tornar desnecessário em 2021, a Selic tenderia a se alinhar com a chamada “taxa de juro estrutural”, que permite a continuidade do crescimento sem causar inflação.

Naquilo que as autoridades brasileiras podem controlar, o trabalho está sendo feito. Com o Banco Central promovendo o estímulo monetário que a situação atual da economia pede, é preciso que Executivo e Legislativo sigam trabalhando pelas reformas que atrairão investimentos, aumentarão a confiança e deixarão o Estado brasileiro mais enxuto e gastando de forma racional. Sem isso, não há como esperar que os juros continuem baixos.

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