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A calamidade da Covid-19 terá duplicata no Brasil
| Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

No momento exato em que várias regiões do Brasil começam a reabrir suas economias após meses de restrições impostas para conter o avanço da Covid-19, um relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) chamou a atenção para os riscos econômicos de uma segunda onda da epidemia. Segundo as projeções da entidade, o PIB brasileiro deve encolher 7,6% neste ano. Nesse cenário, contudo, em que há apenas uma onda da doença, a economia cresceria 5,2% em 2021. Mas há riscos à frente. No caso de haver uma segunda onda da Covid-19, a entidade estima que a economia brasileira enfrentaria uma retração de 9,1% e teria comprometido também parte do crescimento em 2021.

Essa análise sobre as ondas da Covid-19 vale para todos os países analisados pela OCDE em seu relatório. Todas as nações impactadas pelo novo coronavírus já enfrentam recessões profundas, em alguns casos mais graves do que o Brasil. A França, por exemplo, deve ver sua economia encolher mais de 11% neste ano, número que iria a 14,1% no caso de uma segunda onda que obrigue regiões inteiras a fazerem o chamado lockdown.

No balanço de riscos apontados pela OCDE, portanto, há ainda espaço significativo para a piora na atividade econômica. O resultado final dependerá de como os países fizeram a lição de casa para controlar a propagação da doença e para permitir a retomada das atividades econômicas em segurança. Ao mesmo tempo, a qualidade da condução das políticas econômicas pode acelerar ou frear a recuperação na sequência.

O Brasil está bastante exposto a esses dois riscos, o sanitário e o político-econômico. Na primeira frente, ainda não temos certeza de que a contenção da Covid-19 feita até aqui está sendo construída de uma maneira que permita a abertura da economia em segurança. O país ainda está entre as nações que menos testam sua população e não existem diretrizes nacionais para o acompanhamento dos casos confirmados. O modelo de testar e isolar pessoas doentes, que garantiu a reabertura de economias na Ásia e na Europa, não está disseminado no Brasil.

A primeira onda da Covid-19 no Brasil, aliás, ainda não parece bem contida. Há risco de mais cidades no país se tornarem focos concentrados da doença. Mesmo capitais que vinham se saindo bem no controle da doença, como Porto Alegre e Curitiba, tiveram de aumentar as restrições para prevenir a lotação das UTIs disponíveis.

No lado econômico da equação, o Brasil ainda enfrenta fragilidades acumuladas desde o governo Dilma Rousseff. A dívida pública deve ultrapassar os 90% do PIB devido aos gastos extraordinários que foram necessários para lidar com a chegada do novo coronavírus e só deve ser estabilizada dentro de três ou quatro anos. O desemprego está em dois dígitos desde 2016 e já começou a crescer com as demissões provocadas pela economia declinante. Esse período longo de desocupação reduz a produtividade da força de trabalho e diminui suas chances de recolocação no futuro. Para completar, o país ainda não fez todas as reformas que trariam um aumento de competitividade – questões como a independência do Banco Central, marcos regulatórios dos setores de saneamento e gás, além das reformas tributária e administrativa que precisam voltar a andar.

O crescimento “roubado” pelo coronavírus é, portanto, apenas uma síntese das dificuldades que o país precisa superar para encontrar o rumo do crescimento sustentado. É preciso fazer mais para conviver com a Covid-19 e também para superar os velhos obstáculos. Entre eles, a eterna crise política, que paralisa as reformas, e a pressão por mais gastos públicos, que cria “pautas-bomba” em série.

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