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Além das consequências estruturais de longo prazo, a baixa taxa de crescimento do PIB traz problemas no curto prazo. O primeiro é a incapacidade de sustentar o chamado "pleno emprego" e manter a atual taxa de desemprego

O governo acaba de anunciar que, fechadas as contas nacionais, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do ano passado foi de 2,7%. Como a população está crescendo em torno de 1% ao ano, o aumento do PIB de 2011 permite uma melhoria do produto por habitante (que é exatamente a outra face da renda per capita). Apesar disso, o crescimento ficou bem abaixo dos 5% anunciados pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, taxa essa que repetida todos os anos seria capaz de, em duas décadas, tirar o Brasil da condição de país pobre.

A renda per capita brasileira anda na casa dos 10.500 dólares/ano, o que coloca o país na categoria dos emergentes. Todavia, há algumas questões que distorcem o panorama econômico nacional e explicam por que, apesar da boa renda por habitante, há tantos brasileiros em condições ruins de bem-estar. Em primeiro lugar, a carga tributária de 38% do PIB retira US$ 4.000 da renda per capita em forma de impostos, taxas e contribuições sociais, deixando somente US$ 6.000 de renda disponível por habitante.

Segundo, nem mesmo os que têm renda anual abaixo da média nacional de US$ 10.500 são atendidos adequadamente pelos serviços oferecidos pelo governo, o que obriga as famílias a destinarem parte de seu orçamento para despesas com educação, saúde, segurança e transportes. Assim, a renda disponível média de US$ 6.000 por habitante, que deveria ser destinada a outros bens e serviços que não aqueles pelos quais a sociedade paga em forma de tributos, acaba sendo ainda menor, fazendo com que o padrão de vida seja inferior ao padrão sugerido pela renda. A explicação é simples: o setor público retira 38% da renda nacional e não devolve serviços públicos condizentes com o volume de recursos arrecadado da população.

Sendo ineficiente na gestão da carga tributária efetivamente paga, o governo torna-se um dos grandes responsáveis pela pobreza e promove um padrão de vida inferior ao que seria possível com a renda por habitante que o Brasil já atingiu. Essa é uma das causas estruturais da pobreza brasileira, que é agravada pela distribuição da renda nacional ainda muito desigual. A maior parte da população que recebe valores muito abaixo da média nacional, permitindo a existência de camadas sociais com renda bastante superior à média.

Segundo dados do IBGE, o Brasil ainda tem 20% da população na categoria de "pobres" (39 milhões de pessoas) e 7% na categoria de "extremamente pobres" (13,3 milhões de pessoas). Somente dois indicadores sociais são suficientes para revelar o grau de desigualdade de renda no Brasil: metade da população não tem acesso à rede de esgoto e o déficit habitacional está em 7,5 milhões de residências. Assim, a primeira consequência de um crescimento do PIB em 2,7% é provocar atraso na eliminação dos pobres e dos extremamente pobres.

Se o governo melhorasse rapidamente a produtividade do tributo (mais eficiência, menos corrupção e melhor direcionamento do gasto público), o baixo crescimento do PIB teria seus efeitos negativos minimizados. Todavia, se há algo que não dá para esperar é aumento de eficiência e redução da corrupção no manejo dos gastos do governo, razão por que o único caminho é o país buscar crescimento do PIB em torno de 5%, para conseguir alcançar o enriquecimento antes do envelhecimento de sua população.

Além das consequências estruturais de longo prazo, a baixa taxa de crescimento do PIB traz problemas no curto prazo. O primeiro é a incapacidade de sustentar o chamado "pleno emprego" e manter a atual taxa de desemprego. Dizendo de outra forma, o crescimento de 2,7% do PIB vai provocar um esfriamento no mercado de trabalho e o desemprego deve aumentar. Essa consequência poderia ser evitada, ou pelo menos amenizada, se houvesse uma rápida recuperação da produção provocada por algum fenômeno capaz de aquecer a demanda pelos bens e serviços produzidos pelo Brasil. Mas não é o que está se registrado. A produção industrial no Paraná, por exemplo, caiu 11,5% em janeiro. Essa foi a segunda maior queda registrada entre as 14 regiões pesquisadas pelo IBGE.

Como a crise mundial continua séria e como a população brasileira andou se endividando além da conta, não se pode esperar aquecimento da demanda e recuperação acelerada da produção. O endividamento exagerado dos consumidores locais somado a um eventual aumento do número de desempregados pode abrir outro efeito negativo: redução do consumo e aumento da inadimplência nos financiamentos. O resultado é o agravamento do desaquecimento da produção, além de contribuir para elevação da taxa de juros no crédito ao consumidor (a história bancária brasileira mostra que a inadimplência dos devedores é sempre repassada nas taxas de juros cobrados nos empréstimos).

O que chama a atenção no anúncio da taxa de crescimento de 2,7% do PIB em 2011 é a insistência e a convicção com que o ministro Guido Mantega anunciava o crescimento de 5%. Autoridades governamentais são instruídas a sempre manterem um tom de otimismo e a minimizarem a percepção psicológica das crises e das tragédias. Esse papel é até compreensível. Todavia, quando se trata de previsão econômica, furos e erros constantes da maior autoridade fazendária minam a credibilidade da palavra dos homens que dirigem a economia. Daí a razão de uma máxima difundida entre os empresários e investidores: quando há crise, se alguém quiser buscar informações e previsões, o governo deve ser visto como a última fonte confiável.

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