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China e EUA retomarão conversas sobre guerra comercial
China e EUA retomarão conversas sobre guerra comercial em outubro.| Foto: Johannes Eisele/AFP

Após semanas de escalada na guerra comercial entre China e Estados Unidos, há uma possibilidade de trégua no ar. Em outubro, representantes dos dois países se encontrarão em Washington e, nesta quarta-feira, a China anunciou que 16 categorias de produtos norte-americanos não estarão sujeitos às tarifas extras que o país asiático havia implementado desde o ano passado. Essa isenção valerá por um ano. Além disso, em alguns casos nas quais as tarifas adicionais já foram pagas, haverá restituição dos valores. O presidente norte-americano, Donald Trump, elogiou a decisão, mas até agora não retribuiu com concessões similares.

O alcance e os motivos do gesto chinês ainda são discutidos. A lista anunciada na quarta-feira é muito pequena em comparação com o total de itens e tarifas adicionais que a China vem aplicando aos produtos norte-americanos. Além disso, ela cobre apenas produtos de nichos específicos e aqueles que a China tem dificuldade de importar de outros países – os carros-chefe do comércio entre as duas potências, como a soja e a carne de porco, continuam sendo tarifados pelos chineses. É possível que o governo chinês tenha decidido fazer esse tipo de concessão menos como demonstração de boa vontade para com os americanos e mais como forma de reduzir o impacto da guerra comercial sobre sua indústria.

No médio e longo prazo, as guerras comerciais, ainda mais quando travadas entre gigantes, tendem a enfraquecer a economia mundial

Em um primeiro momento, a guerra comercial entre duas superpotências tende a beneficiar os demais atores no cenário internacional, já que tanto China quanto Estados Unidos passam a buscar fornecedores diferentes para os produtos de que necessitam e novos compradores para os itens que produzem. O Brasil foi um dos beneficiários deste movimento – no começo da semana, por exemplo, a China autorizou 25 frigoríficos brasileiros a exportar carne para o país asiático –, e até poderia aproveitar melhor a oportunidade se não tivesse uma economia tão fechada à inserção internacional. No entanto, no médio e longo prazo, as guerras comerciais, ainda mais quando travadas entre gigantes, tendem a enfraquecer a economia mundial, como alertou em entrevista à Gazeta do Povo o chefe da Divisão de Agricultura e Commodities da Organização Mundial do Comércio, Edwini Kessie. Isso é especialmente preocupante em um momento no qual várias das economias mais importantes do planeta já estão à beira da recessão.

Se a guerra comercial só oferece um benefício breve e até certo ponto ilusório para o Brasil, um outro movimento que teria efeitos vantajosos e um pouco mais duradouros para o país seria uma redução na taxa de juros norte-americana. O Fed, o banco central dos Estados Unidos, se reúne em 17 e 18 de setembro, e os juros estão hoje entre 2% e 2,25%. O presidente Donald Trump vem pressionando o Fed para que reduza a taxa em pelo menos um ponto porcentual, mas que o ideal seria “zero ou menos”, para que os Estados Unidos tivessem condições melhores de competição contra países cujos juros hoje são negativos. Juros mais baixos nos Estados Unidos tornariam o Brasil, cuja Selic está hoje em 6%, mais atrativo para o capital internacional, especialmente se as reformas macroeconômicas forem aprovadas, oferecendo mais segurança ao investidor.

As investidas de Trump lembram a pressão – menos explícita, é preciso reconhecer – do governo brasileiro na época de Dilma Rousseff para que o Copom reduzisse os juros no país, um movimento voluntarista que não terminou nada bem. Nos Estados Unidos, entretanto, o presidente do Fed tem autonomia e se reporta apenas ao Congresso do país. Jerome Powell, que comanda o banco central americano, já afirmou que os Estados Unidos estão em uma “posição favorável” para um corte, com inflação e desemprego baixos, mas que também vê riscos para a economia global devido justamente à guerra comercial – uma cautela que já levou o presidente do Fed a ser chamado de “inimigo” por Trump. Se a redução dos juros realmente vier na próxima semana, terá de ser muito bem justificada para não parecer mera capitulação às críticas presidenciais.

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