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No domingo passado, a população grega foi às urnas e disse “não” às medidas de austeridade que haviam sido colocadas na mesa para evitar um calote e convencer os credores a ampliar a ajuda para impedir um colapso econômico que tiraria a Grécia da zona do euro. O primeiro-ministro Alexis Tsipras, do partido de extrema-esquerda Syriza, conseguiu o que queria após ter feito campanha pelo “não”. Mas seu tempo está se esgotando: ele entregou ao Eurogrupo sua própria proposta de ajustes, que o parlamento grego deve aprovar ainda nesta sexta-feira. O desafio de Tsipras é o de equilibrar as contradições do povo grego, que pela segunda vez se pronunciou contra a austeridade (a primeira foi na eleição que levou o Syriza ao poder, no início deste ano), mas ao mesmo tempo deseja permanecer na zona do euro, beneficiando-se da união monetária, como indicam várias pesquisas feitas nas últimas semanas.

Após o resultado do referendo, Tsipras se encontrou na terça-feira com a chanceler alemã, Angela Merkel; com o presidente francês, François Hollande; e com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Nessa reunião, o premiê grego recebeu um prazo para apresentar novas propostas de reformas econômicas. Na quarta-feira, a Grécia apresentou ao Mecanismo Europeu de Estabilidade um pedido de resgate com duração de três anos, o que permitiria pagar as parcelas da dívida que estão vencendo e recapitalizar os bancos do país.

O desafio de Tsipras é o de equilibrar as contradições do povo grego, que se pronunciou contra a austeridade, mas deseja permanecer na zona do euro

Alguns ministros de Finanças passaram a semana falando duro. “Uma união monetária construída como a nossa não é nada além de um convite para alguém que não se atém às regras, e isso é chamado risco moral”, afirmou o alemão Wolfgang Schäuble – em uma confissão implícita de que criar a união monetária sem uma correspondente união fiscal não foi a mais sábia das medidas. “Não se pode ter solidariedade quando não se aceita responsabilidade”, disse o francês Michel Sapin. Países menores que integram a zona do euro questionam se deveriam colocar mais dinheiro naquela que é provavelmente a economia menos eficiente do bloco, com um setor público tão inchado que representa hoje cerca de 25% da força de trabalho grega – um contingente com força eleitoral suficiente para que qualquer político, independentemente de matiz ideológico, pense muitas vezes antes de mexer nos privilégios desses funcionários públicos.

E, por mais que os fatores geopolíticos não estejam sendo mencionados explicitamente nas negociações, eles não podem ser ignorados. Logo após a vitória do “não” no referendo grego, o presidente russo, Vladimir Putin, telefonou a Tsipras manifestando seu apoio e tratando do “desenvolvimento da cooperação bilateral”. A Grécia, com posição estratégica entre o leste europeu e o Mar Mediterrâneo, seria um aliado ideal para uma Rússia que, em 2004, viu a Otan, a aliança militar ocidental, chegar às suas fronteiras com a adesão dos países bálticos. Além disso, a Grécia é porta de entrada para inúmeros imigrantes ilegais, uma questão que preocupa diversas outras nações europeias.

Neste sábado, os ministros de Finanças da zona do euro se reunião em Bruxelas; no domingo, é a vez de os líderes dos países que adotam a moeda única se encontrarem e, depois, os líderes de todos os 28 países da União Europeia farão uma reunião em que, promete-se, o destino da Grécia será selado. Difícil saber com toda a certeza se este será mesmo o capítulo final do impasse grego – outros “prazos finais” já vieram, passaram e as negociações continuaram mesmo assim. Mais difícil ainda é chegar a uma conclusão definitiva sem a consciência exata sobre o que é mais importante: manter a integridade da união monetária, evitar a imposição de mais sofrimento ao povo grego, impedir que a Grécia entre na órbita russa ou combater o risco moral que surge quando se vê um país desperdiçar dinheiro sem encarar as consequências.

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