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Apenas a gasolina respondeu por metade do IPCA de novembro de 2021, segundo o IBGE.
Apenas a gasolina respondeu por metade do IPCA de novembro de 2021, segundo o IBGE.| Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo

Se algo de bom pode ser dito sobre os números da inflação de novembro, divulgados nesta sexta-feira pelo IBGE, é apenas que poderia ter sido pior. O IPCA fechou o mês passado em 0,95%, abaixo das expectativas do mercado financeiro e também 0,30 ponto porcentual abaixo da inflação de outubro. A desaceleração, no entanto, teve pouco efeito sobre os números acumulados, que seguem em alta: o IPCA dos 11 primeiros meses de 2021 foi para 9,26%, e o acumulado dos últimos 12 meses subiu para 10,74%; a esta altura, praticamente todos os agentes do mercado financeiro dão como certo que a inflação terminará o ano acima de 10%, o que não ocorria desde 2015, quando a “herança maldita” da política econômica petista ficou escancarada.

Sem surpresa, os combustíveis voltaram a ser o item que mais contribuiu para a elevação dos preços. O grupo Transportes subiu 3,35% e respondeu por 0,72 ponto porcentual do IPCA de novembro; apenas a gasolina saltou 7,38% em novembro, com efeito de 0,46 ponto porcentual – ou seja, metade da inflação do mês passado veio única e exclusivamente deste combustível, que já subiu quase 50% em 12 meses, assim como o óleo diesel. O etanol registra alta acumulada ainda maior, com quase 70% no mesmo período. Energia elétrica e o botijão de gás também subiram acima do índice geral em novembro: 1,24% e 2,12% respectivamente.

Executivo e Legislativo se rendem à pressão gastadora enquanto o poder de compra do brasileiro volta a ser corroído

Será este o início de uma reversão? Infelizmente, ainda é muito cedo para fazer este tipo de afirmação, ainda mais levando em conta que, segundo o próprio IBGE, a inflação de novembro foi afetada por um “efeito Black Friday”, com descontos fortes em itens como lanches e produtos de higiene, a ponto de eles registrarem deflação no mês. Como, no entanto, trata-se de evento bastante específico, qualquer futura desaceleração da inflação dependerá de outros fatores; no melhor cenário, haveria uma melhora no regime de chuvas, arrefecendo a crise hídrica, ou uma valorização do real e uma queda no preço internacional do petróleo, que puxem para baixo o preço dos combustíveis, excluindo canetadas intervencionistas que têm efeito de curto prazo, mas criam uma bomba-relógio que explode a seguir, trazendo ainda mais inflação, como se viu em 2015.

Ainda melhor que contar com fatores que dependem do clima ou do humor de cartéis produtores de commodities seria realizar o dever de casa e fortalecer a economia por meio de reformas e ajuste fiscal, mas este é um caminho que governo e Congresso não andam empenhados em trilhar. As reformas administrativa e tributária estão paradas; em Brasília só têm avançado os projetos que ampliam gastos, o que deixa o Banco Central no papel de único agente empenhado em conter a inflação, como afirmamos neste espaço dias atrás. O BC usa a ferramenta que tem à disposição, aumentando juros e, consequentemente, freando a recuperação da economia e a geração de emprego e renda. Seria estratégia certeira caso a inflação brasileira fosse a típica “inflação de demanda”, mas, como também já lembramos, este recente surto inflacionário é motivado mais por outras causas que por um tradicional excesso de demanda.

As perspectivas para 2022 também já começam a se deteriorar, com o mercado financeiro estimando um IPCA de 5,02%, acima do limite superior de tolerância da meta de inflação do ano, que será de 3,5% – um estouro da meta por dois anos seguidos é algo que não ocorreu nem mesmo durante a crise lulopetista de 2015-2016, embora naquele período a meta fosse mais alta que a atual. Fato é que, independentemente do cumprimento ou não dos índices estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional, Executivo e Legislativo se rendem à pressão gastadora enquanto o poder de compra do brasileiro volta a ser corroído.

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