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A América do Sul vive uma situação política e econômica peculiar. Em vários momentos da história, os países da região caminharam, senão na mesma estrada, pelo menos na mesma direção. Houve um tempo em que os maiores países sul-americanos eram governados, simultaneamente, por ditaduras militares. Em outro momento, eles rumaram, também quase ao mesmo tempo, para repúblicas estatizantes e protecionistas. Quando a onda de democratização começou, a maioria movimentou-se na mesma direção política, ainda que com algumas diferenças de ritmo e intensidade. Embora composta por países livres e independentes, a América do Sul parecia rezar sempre pela mesma cartilha, levando os organismos internacionais a se referirem à situação política e econômica da região como se fora um bloco regional razoavelmente homogêneo. A situação peculiar da atualidade na América do Sul está na quebra dessa suposta homogeneidade, forçando os analistas a terem de considerar no mínimo três grupos diferentes de países.

O primeiro grupo, no qual estão Venezuela, Equador e Bolívia, é caracterizado por governantes com aspectos autoritários, que pregam a implantação de um "socialismo do século 21", coisa que ninguém sabe bem o que é. Esse grupo tem por norma retomar a estatização de setores econômicos, criar embaraços nas relações internacionais e impor restrições ao capital estrangeiro – é precisamente o que se vê na recusa equatoriana em acertar as contas com o BNDES. O segundo grupo, no qual estão Argentina e Paraguai, aparenta querer a manutenção do capitalismo de livre mercado, porém com fortes intervenções governamentais. Esse grupo mantém postura dúbia em relação ao capital estrangeiro e deixa o mercado internacional receoso quanto às políticas para o investimento estrangeiro. Existe um terceiro grupo, no qual estão Brasil, Chile e Colômbia, os quais se apresentam aos olhos da comunidade internacional como países comprometidos com a democracia política, com a economia de mercado e com a abertura ao exterior, sendo vistos pelos analistas estrangeiros como o grupo mais estável, tanto na economia quanto na política.

Ainda que incompleto, esse quadro reflete, com razoável fidelidade, a situação geral da América do Sul e se apresenta, para o Brasil, como uma oportunidade histórica para o crescimento do país em termos de liderança regional. Contando com a confiança internacional na sua estabilidade política e na solidez da sua economia, apesar da atual crise mundial, o Brasil tem sido visto com bons olhos pelos investidores estrangeiros e tem merecido afagos das grandes potências mundiais, que não escondem o desejo de ver o país exercendo a liderança na região. O Brasil sempre foi tido como um país historicamente dedicado à paz entre as nações e, pelo tamanho do seu território, pelos seus mais de 185 milhões de habitantes e pelo volume do seu Produto Interno Bruto, é visto também como um decisivo elemento estratégico no Cone Sul. Tal oportunidade não pode ser perdida, especialmente em tempos de grande luta para manter a economia ativa.

A questão é saber se o governo brasileiro e sua diplomacia estão conscientes desse papel e se têm equipe competente para dar conta das suas responsabilidades para corresponder ao que se espera do país e dos seus governantes.

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