Nesta reta final da eleição presidencial, após embates recheados de acusações mútuas, a opinião pública pede aos candidatos a apresentação de suas plataformas, em especial na área econômica, porque espera-se que a decisão se dê em cima de propostas concretas para os próximos quatro anos. Mas dificilmente será atendido o pedido de "programas ofensivos" como os reclamados pelo brazilianista norte-americano Thomas Skidmore para enfrentar os desafios do crescimento, ficando ambas as chapas nas generalidades. É que nesta altura, detalhar projetos é perigoso, como se viu na polêmica criada em torno das propostas do economista Yoshiaki Nakano.
O professor tucano, ex-secretário da Fazenda na gestão Mário Covas, foi claro ao participar de recente seminário no Rio: até agora o governo Lula, prosseguindo no modelo herdado de Fernando Henrique, conseguiu controlar a inflação mas sem crescimento. Os dados estão à vista: neste ano, repetindo 2005, a expansão do PIB brasileiro ficará abaixo de 3%, o salário médio sofreu redução de 6,4%, o consumidor e o pequeno empresário estão retraídos e não há investimento.
Para crescer em padrões asiáticos o país precisa adotar fórmulas asiáticas, reduzindo o custo do Estado para derrubar a despesa pública e a necessidade de financiá-la com juros altos; e juros menores permitem que os empresários retomem investimentos e que o câmbio baixe para patamar mais realista. Se necessário, num primeiro momento seria o caso de adotar controle da conta de capitais, via um depósito de certo prazo sem remuneração para capitais especulativos. Exatamente como fazem países asiáticos e entre nós, até recentemente, o Chile.
Essa parte do pronunciamento do professor Nakano despertou um vendaval de críticas: de economistas do setor financeiro, incomodados com a perspectiva de perda das gordas receitas do atual modelo; de setores ligados ao governo, que aproveitaram para reforçar acusações de privatismo neoliberal despachadas contra o candidato tucano. Foi preciso que o próprio Geraldo Alckmin negasse autoridade ao economista para falar em seu nome; enviando Nakano para uma viagem ao exterior.
O erro do professor Nakano foi ter agido de forma "sincera mas ingênua", como os militares radicais da era Geisel, que teimavam em prolongar a intervenção autoritária sobre um país que ansiava por democracia. Com sua intervenção fora de tempo ele pode ter roubado preciosos pontos de Alckmin, forçando o candidato a atuar na defensiva. Mais, Alckmin se comprometeu com os pedetistas do ex-candidato Cristóvão Buarque a manter intactos os direitos trabalhistas e até ampliá-los, para abranger a proteção dos trabalhadores informais.
Afinal, qualquer que seja o ganhador das próximas eleições, mesmo com perda de competitividade mundial o Brasil tenderá a avançar cautelosamente na senda das reformas modernizantes. A composição de forças resultante da consulta popular para o Congresso e o governo é que fixará esse limite, dentro de nossa índole nacional.
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