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A Argentina só tem a perder, assim como os demais países latino-americanos que recorreram à expropriação, como Venezuela, Equador e Bolívia

Na segunda-feira, o governo argentino anunciou a intenção de assumir o controle da petroleira YPF, subsidiária da espanhola Repsol, sob o argumento de que o abastecimento de hidrocarbonetos é um objetivo prioritário e de interesse público nacional. A Presidência enviou um projeto de lei ao Congresso do país, mas a diretoria da empresa já foi dissolvida e substituída por executivos apontados pela Casa Rosada. A Lei de Soberania de Hidrocarbonetos ainda dá margem a novas nacionalizações. "Os países e as empresas precisam entender que todas as empresas de capital estrangeiro instaladas na Argentina são argentinas", declarou a presidente Cristina Kirchner.

A Argentina vive às voltas com uma inflação em alta constante, a ponto de o governo maquiar os dados oficiais: enquanto o Indec (órgão oficial de estatísticas) aponta uma inflação acumulada em 12 meses na casa de 10%, economistas estimam cerca de 25% de alta no mesmo período. A manipulação chegou ao ponto de a revista britânica The Economist ter interrompido a publicação dos índices de preços argentinos por não mais considerá-los confiáveis; economistas e institutos que publicam as próprias projeções são alvo de ações judiciais dentro do país. Assim, o governo se vê obrigado a buscar artifícios para desviar a atenção popular e estimular um senso de patriotismo. Em alguns casos, o recurso é inofensivo, como a retórica sobre a retomada das Malvinas; em outros, ameaça a economia do país, como a recente escalada protecionista e a ofensiva estatizante.No curto prazo, o governo argentino pode até perceber uma melhora em suas contas, pois a escolha pela estatização do setor de hidrocarbonetos vem em um momento no qual os preços do petróleo estão altos. Mas, no médio e longo prazos, a Argentina só tem a perder, assim como os demais países latino-americanos que recorreram à expropriação, como Venezuela, Equador e Bolívia – alguns dos episódios envolveram inclusive empresas brasileiras, como a Petrobras. A situação ameaça o clima de negócios na região, que até agora vem evitando os efeitos mais drásticos da crise financeira internacional.

O ambiente para empresários na América Latina já não é dos melhores devido ao excesso de regulação, mas fica ainda mais prejudicado quando governos resolvem tomar para si empresas ou recursos privados, na maioria das vezes pagando compensações pífias aos antigos acionistas – ontem, o governo argentino afirmou que não pagará os US$ 10,5 bilhões que a Repsol pede como compensação pela expropriação. E as próprias empresas, com apadrinhados políticos substituindo os diretores antigos, escolhidos principalmente por capacidade técnica, podem ter sua produtividade afetada negativamente.

Prova do que ocorre quando governos resolvem se apropriar de empresas privadas está nos números de Investimento Estrangeiro Direto (IED). Em 2010, quando o Equador nacionalizou o setor de hidrocarbonetos, o IED caiu 49% em relação a 2009. Na Venezuela, o saldo de investimento estrangeiro foi negativo de 2008 a 2010, os anos imediatamente seguintes ao início da histeria estatizante. Enquanto isso, o Brasil vem acumulando recordes em IED, fechando 2011 com um superávit de US$ 66,7 bilhões em investimento estrangeiro; apesar de ideologicamente alinhado aos vizinhos estatizantes, o governo brasileiro não aderiu à moda de expropriações – os obstáculos ao empreendedorismo no país são de outra natureza, normalmente relacionados à burocracia e ao "custo Brasil". As cifras mostram que, nos países cujos governos não alteram as regras do jogo, os empresários se sentem mais seguros para investir e incentivar o desenvolvimento.

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