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As provas contra Lula descartadas pela Justiça no caso do sítio de Atibaia
Ex-presidente Lula prometeu “regulamentação da mídia” se voltar ao poder.| Foto: Lula Marques/Agência PT

Após prometer revogar o teto de gastos e, ao lado de Fernando Henrique Cardoso, apoiar o retrocesso protecionista no Mercosul, o ex-presidente, ex-presidiário e ex-condenado Lula lançou mais uma plataforma em sua campanha antecipada para a Presidência: o cabresto na imprensa. “A gente quer uma coisa muito bem democrática”, disse em entrevista coletiva concedida na sexta-feira passada, em São Luís (MA). “A gente não quer uma regulamentação como na imprensa chinesa não, ou a cubana”, afirmou o petista, para delírio da intelectualidade e de setores do jornalismo que insistem em retratá-lo como democrata, e em uma tentativa de tranquilizar o eleitorado incauto.

Se Lula não quer o modelo chinês nem o cubano, o que ele deseja? “A gente quer como a imprensa inglesa, como a imprensa alemã”, acrescentou. Mas logo depois ele se entregou, mostrando que seu sonho “bem democrático” é mesmo aquele país sul-americano que tem “excesso de democracia”. “Eu vi como a imprensa destruía o Chávez”, seguiu o petista, retratando o ditador venezuelano como uma pobre vítima da imprensa local e insinuando que seu modelo de “regulamentação da mídia” está mais para a Venezuela, ou talvez a “Lei de Meios” da Argentina de Cristina Kirchner, que para o modelo britânico ou alemão.

O “Lula democrata” é uma grande farsa, e seu “novo marco regulatório para a comunicação no Brasil” tem tudo para ser a concretização do ataque à liberdade de imprensa que o PT deixou de fazer quando estava no poder

E, neste caso, não foi a imprensa quem destruiu Chávez, mas o exato oposto: foi o ditador bolivariano que destruiu quaisquer resquícios de imprensa livre em seu país. Em 2007, deixou de renovar a concessão do canal televisivo RCTV – o mais visto da Venezuela, mas que não se dobrava ao esquerdismo –, com direito a confisco dos equipamentos. Em 2009, ordenou o fechamento de 34 emissoras de rádio. Seu sucessor, Nicolás Maduro, seguiu na mesma toada: também deixou de renovar concessões, cortou o sinal de emissoras estrangeiras e impôs restrições à compra de papel jornal que inviabilizaram o funcionamento de periódicos não chavistas. Por ordem do Judiciário aparelhado pela ditadura, diretores de jornais e sites foram proibidos de deixar o país após reportagens que denunciavam a ligação do chefão bolivariano Diosdado Cabello com o narcotráfico.

Durante seu governo, Lula tentou, mas não conseguiu emplacar um Conselho Federal de Jornalismo, e na entrevista em São Luís voltou a lamentar não ter colocado a imprensa sob seu controle durante a passagem do PT pelo Planalto – repetindo a “autocrítica” feita após o impeachment de Dilma Rousseff, que à época ainda listou o Ministério Público e as Forças Armadas entre as instituições que deveriam ter sido domesticadas. Mas seus militantes bem se encarregaram de dar pequenas demonstrações do apreço do partido pela imprensa livre. Em 2014, petistas vandalizaram a sede da Editora Abril, após edição da revista Veja com acusações contra a então candidata Dilma; em 2017, a jornalista Miriam Leitão foi hostilizada por militantes antes, durante e depois de um voo. São episódios protagonizados por anônimos, mas que apenas colocaram em prática o discurso do seu chefe e de figurões como o ex-presidente da legenda Rui Falcão, que em 2013 comparou a imprensa livre aos regimes fascistas da primeira metade do século passado.

Que ninguém se iluda: o “Lula democrata” é uma grande farsa, e seu “novo marco regulatório para a comunicação no Brasil” tem tudo para ser a concretização do ataque à liberdade de imprensa que o partido deixou de fazer quando estava no poder. Nada diferente pode vir de um defensor incondicional de ditaduras como a cubana e a venezuelana, do arquiteto de dois megaesquemas de corrupção destinados a fraudar a democracia brasileira, do principal fomentador do “nós contra eles” que deu origem à polarização atual, do responsável pelo aparelhamento e pela desmoralização de diversas instituições republicanas. Só quem fecha os olhos a tudo isso – seja por ignorância, seja por desonestidade intelectual, seja por qualquer outro motivo – pode ver Lula como um democrata.

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