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Lula
O ex-presidente Lula vota nas eleições municipais de 2020.| Foto: Ricardo Stuckert

Nestes tempos confusos em que até opiniões são classificadas como fake news de acordo com a mera conveniência – por exemplo, se o autor da opinião é alguém que se deseja desqualificar, ou que pertence a certo grupo político-ideológico –, devemos agradecer ao ex-presidente, ex-presidiário e ex-condenado Lula por nos dar um exemplo perfeito do que realmente são fake news: afirmações factuais sem o menor lastro na verdade. Em entrevista concedida nesta terça-feira a uma emissora de rádio paranaense, Lula afirmou que a Previdência Social havia sido superavitária em 2014.

Pois a alegação de Lula não resiste a uma verificação simples, com dados do Tesouro Nacional divulgados em 2017 e que cobrem o segundo mandato de Lula e todo o período de Dilma Rousseff no Planalto. Em todos esses anos, tanto o INSS quanto os regimes próprios de previdência, que amparam o funcionalismo, tiveram rombo – no caso específico de 2014, houve déficit de R$ 56,7 bilhões no INSS e outros R$ 66,9 bilhões nos regimes próprios, em valores nominais (sem correção pela inflação). Eis, portanto, um caso perfeito em que um ex-presidente da República espalha fake news sem o menor pudor – e sem que se veja por aí a indignação costumeira quando alguma opinião emitida por um direitista ou conservador é rapidamente “checada” para receber um carimbo desqualificatório.

O PT não esconde sua face hostil a tudo que possa ajudar o Brasil a crescer com liberdade para empreender e responsabilidade fiscal

Mas por que mentiria dessa forma a autoproclamada alma mais honesta do país? Porque, segundo Lula, o Brasil não precisava, nem precisa de reformas – nem as que já foram feitas, como a trabalhista, a da Previdência e o teto de gastos, nem as que ainda têm de ser aprovadas, como a administrativa, a tributária e as privatizações. Se a Previdência tinha superávit, não havia por que mudá-la, é o que Lula deseja que o brasileiro pense. Como os números mostram, não era bem esse o caso, pois o rombo já se tornou estrutural, não conjuntural. E, quando Lula não está mentindo, está omitindo, como no momento em que diz: “Se você não tiver emprego, você não tem contribuinte. Se você não tiver contribuinte, a previdência vai ser deficitária”. O que o raciocínio simplista não diz é que, dado o envelhecimento da população brasileira e o modelo da previdência brasileira, em que os trabalhadores da ativa financiam as aposentadorias, mais cedo ou mais tarde nem mesmo o pleno emprego salvaria a Previdência do rombo.

Lula diz que o Brasil não precisa de reformas porque o petismo é naturalmente adepto do terraplanismo orçamentário da geração espontânea e infinita de dinheiro público para ser gasto como se não houvesse amanhã; porque é avesso a um Estado enxuto e ágil; porque deseja estatais gigantescas para serem pilhadas em esquemas de corrupção; porque é preciso dificultar ao máximo a vida do empresário, ainda enxergado como “vilão explorador” – como demonstra a própria entrevista de Lula. A verdade, no entanto, é que há limites para tomar e gastar o dinheiro do contribuinte; que o Estado brasileiro é inchado, concentrador de riqueza e insiste em atuar diretamente em áreas das quais deveria se manter afastado; que nosso sistema tributário é anômalo e suga tempo e recursos humanos que as empresas poderiam empregar de forma mais produtiva; e que o verdadeiro motor de qualquer economia saudável é a iniciativa privada, a grande geradora de emprego e renda.

Justiça seja feita, o petismo tem sido muito sincero em todas as suas manifestações recentes sobre o que pretende fazer com a economia brasileira caso volte ao Planalto: desde o artigo de Guido Mantega com críticas à reforma trabalhista e ao teto de gastos, até todas as declarações sobre reversão de reformas e mesmo privatizações, o partido não esconde sua face hostil a tudo que possa ajudar o Brasil a crescer com liberdade para empreender e responsabilidade fiscal. Mas tenta vender o retrocesso como preocupação sincera com os brasileiros, contando que o eleitor terá memória curta e não se recordará de como essas mesmas políticas levaram à crise de 2015-16, a verdadeira “herança maldita” que a passagem do PT pelo Planalto deixou ao país.

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