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A decisão de Marina Silva, acompanhada pelo PV, de se manter independente no segundo turno destas eleições, é uma demonstração de coerência da ex-candidata. O posicionamento de Marina a coloca em um patamar acima do fisiologismo político.

Com o volume de votos que obteve no primeiro turno – terminou em terceiro lugar com 19,6 milhões de votos, o que representa cerca de 20% do eleitorado brasileiro – tornou-se objeto de desejo tanto do PT como do PSDB. Conquistou capital político que a credenciaria para se render às conveniências políticas e trocar seu apoio – e de seu partido – por cargos e outros benefícios no futuro governo. Entretanto, a independência anunciada pelo PV ontem, como bem assinalou a ex-candidata, não significa neutralidade já que os militantes e políticos do partido ficaram, na prática, liberados para apoiar quem quiserem.

Na prática isso deve resultar em apoios tanto para Dilma Rousseff (PT) como para José Serra (PSDB). Fernando Gabeira declarou apoio a Serra. Zequinha Sarney, filho do senador José Sarney, em contrapartida, anunciou dar seu apoio a Dilma. E, enquanto os militantes do PV devem escolher em cada estado quem irão apoiar, Marina, em princípio, segue neutra.

É o que se depreende de seu discurso ontem, na reunião do PV, ocorrida em São Paulo. Na ocasião, Marina Silva fez um discurso criticando o que chamou de "dualidade destrutiva" entre petistas e tucanos. Ao afirmar que "a agressividade do seu confronto (entre PT e PSDB) pelo poder sufoca a construção de uma política de paz", a ex-candidata mostra que vem firmando posição como um contraponto aos dois partidos. Marina se posiciona como uma força política de "terceira via", ao optar pelo não alinhamento com Dilma ou com Serra.

Marina Silva é hoje maior que o PV, pois os verdes ganharam projeção no Brasil em função de sua atuação. Ela demonstrou que um terceiro caminho político seria possível, conquistando o respeito dos grandes partidos que disputaram o primeiro turno das eleições. O seu capital político, hoje, não pode ser ignorado. É provável que não se dilua em 31 de outubro e que continue a ser uma força política de relevância no cenário nacional.

Uma das razões do sucesso de Marina Silva foi justamente a insatisfação de parte dos eleitores com partidos tradicionais que dominam a situação e a oposição no cenário político brasileiro. Foi a vontade de buscar novos nomes e novas formas de se fazer política. O apoio de Marina a Dilma ou a Serra desconstruiria essa imagem conquistada pela ex-candidata. Se Marina irá sobreviver eleitoralmente aos próximos quatro anos, a ponto de ter densidade política e viabilizar uma nova candidatura à presidência em 2014, é impossível de se prever. Entretanto, ela deu os primeiros passos para que isso ocorra ao assumir uma posição de neutralidade no final deste processo eleitoral, sem deixar-se seduzir pelo prestígio que adquiriu.

Aos dois candidatos que continuam na disputa, cabe abrir os olhos para a necessidade de uma plataforma que inclua questões ambientais, além de perceber que grande parte do eleitorado gostaria de ver mudado o jogo da governabilidade, aplicado em períodos de composição política.

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