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A economia dispõe de metodologia bastante apurada para fazer a contabilidade do país e entender os fenômenos de produção, renda, salários, emprego, tributos e demais variáveis nacionais. Os macroeconomistas olham o país como se fosse uma só unidade produtiva e afirmam que, no fim de todas as contas, o que sobra é a renda do capital e a renda do trabalho. Após subtraída a parcela que os recipiendários de renda entregam ao governo em forma de tributos, restam a renda disponível do trabalho – que fica à disposição das pessoas para consumir, poupar e adquirir ativos – e a renda disponível do capital, que fica à disposição dos capitalistas para investir ou consumir.

A melhoria do padrão médio de bem-estar social se dá pelo crescimento da renda nacional (que é igual ao produto nacional) e pela distribuição dessa renda entre o trabalho e o capital. Em um país cuja renda nacional cresce continuamente mais que a população, um eventual aumento da participação porcentual da renda do capital no total da renda não é um problema, pois o crescimento produtivo possibilita que a renda média dos trabalhadores aumente ano a ano. A evolução desse quadro pode ser entendida pela análise da chamada “massa de salários”, que é o total da renda do trabalho decorrente do nível de ocupação da mão de obra.

Não é possível aumentar a produção por meio de medidas mirabolantes

A combinação de produto nacional estagnado e redução da massa de salários configura empobrecimento da população em termos médios, ainda que uns possam melhorar sua renda enquanto outros têm perdas bem superiores à média nacional. Mais grave é quando, nessa situação, a renda do capital não aumenta, o que pode ocorrer em razão do dinheiro necessário para repor o desgaste do estoque de capital – também conhecido como depreciação dos meios de produção – e pelo aumento da parcela transferida ao governo em forma de tributação. Após o fechamento das contas de maio passado, confirmou-se que a massa de salários no Brasil vem caindo e teve queda maior que a ocorrida na crise de 2003.

Como a redução da massa de salários ocorre num momento em que o produto de 2015 está previsto para ser menor que o de 2014 em 1,4%, a redução da renda do trabalho não beneficiará a renda do capital, que é de onde sai o dinheiro para o investimento na expansão do parque produtivo do país. Esse tipo de problema poderia ser amenizado se o governo aumentasse seus investimentos e se houvesse aumento do capital estrangeiro ingressado para investimento produtivo. Infelizmente, apesar de os tributos seguirem aumentando ano após ano, a elevação da arrecadação não tem aumentado os investimentos do setor público, mas tem sido usada para pagar despesas de pessoal e custeio da máquina estatal e dos serviços públicos.

Pelos exemplos conhecidos, um panorama como esse somente pode ser revertido se houver retomada do crescimento do produto nacional a taxas que superem o crescimento da população. Ocorre que não é possível aumentar a produção por meio de medidas mirabolantes. A primeira condição do crescimento é o combate à inflação, pois esta tem poder corrosivo contra os investimentos e contra o poder de compra das pessoas, além de afugentar os investidores internacionais. A segunda condição é a retomada da confiança das pessoas, dos investidores privados nacionais e dos investidores estrangeiros na estabilidade política e na estabilidade econômica do país, sem a qual não há aumento da disposição para investir.

Ambas essas condições dependem diretamente da atuação do governo nas três esferas da federação, do equilíbrio das contas governamentais e da boa gestão das finanças públicas. O mundo está assistindo a mais um exemplo de nação, a Grécia, que afundou em grave crise por ter destruído as finanças do governo ao longo de meio século. Com diferença de intensidade, é o que está ocorrendo no Brasil. A piora sistemática das contas públicas nos últimos quatro anos e a frouxidão nos gastos públicos em governos anteriores estão na base dos problemas que o Brasil vive atualmente, cuja solução exigirá sacrifícios da população.

A queda da massa de salários, notícia ruim para o conjunto dos trabalhadores, não é fruto do acaso. Pelo contrário, é o resultado do grave quadro por que passa a economia brasileira neste momento. Sem a reorganização das contas públicas, o combate à inflação e a recuperação da capacidade de investir, a saída da má situação econômica será tarefa difícil, penosa e demorada.

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