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O governador do Paraná admitiu publicamente que o projeto de sua autoria para acabar com o nepotismo no estado não passava de um "teste" para medir a sinceridade dos deputados a respeito dos verdadeiros propósitos com relação à nefasta prática da contratação de parentes no serviço público. O que ele não disse, mas que se infere das afirmações que fez ontem durante a "escolinha", é que sua "esperteza" permitiu que o Paraná esteja agora passando pelo vexame nacional de não aprovar qualquer legislação antinepotista no ano em curso.

A manobra urdida nos gabinetes do Palácio Iguaçu, ao que parece, consistiu em cooptar alguns parlamentares inocentes úteis para derrubar o projeto original de autoria do deputado petista Tadeu Veneri, que Sua Exa. considerava incompleto, para que, em seguida, a Assembléia Legislativa pudesse aprovar o do Executivo – apresentado como mais rigoroso.

Disse o governador que esperava dos deputados o abandono do projeto original, sua substituição pelo novo ou a aglutinação deste ao anterior. Como nada disso ocorreu e a emenda do parlamentar petista acabou derrotada, ficou para a Assembléia e seus deputados o ônus de tentar explicar o inexplicável – o porquê da não aprovação do fim do nepotismo –, além de se sepultar, pelo menos em 2006, qualquer outra tentativa de se pôr um fim ao mau hábito de inchar os quadros públicos com a parentela.

Para tanto, se procurou conduzir a opinião pública e a própria Assembléia a acreditarem que o projeto do Executivo poderia, após a derrota da emenda original, ter seu curso. Tanto é verossímil tal inferência que no mesmo dia em que a oportuna ausência de alguns deputados e a curiosa adesão de outros derrotaram a emenda do deputado Tadeu Veneri, o Palácio Iguaçu aproveitava o momento de júbilo para anunciar, por meio de sua Secretaria de Comunicação, que a Assembléia Legislativa estava livre para apreciar o projeto do Executivo, ainda que o governador soubesse que isto não seria regimental e legalmente possível.

Jactou-se S. Exa. com o fato de a imprensa, a seu ver, ter caído na esparrela. Para ele, mentiram os jornais – incluindo nominalmente esta Gazeta –, esquecendo-se de sua contribuição para que a "mentira" se espalhasse. Na verdade, os jornais ouviram várias fontes e valeram-se também da informação oficial. Se há nisso mentira, a mentira foi alimentada pelo Palácio Iguaçu.

É importante que a opinião pública do Paraná tome conhecimento de que não devem ser levadas em consideração todas as informações e o palavrório propagandístico do governo estadual. Faltam-lhes certamente, pelo exemplo citado, algo essencial: seriedade e absoluto compromisso com a verdade. Se a informação oficial deve ser encarada como um retrato do caráter do governo e da responsabilidade com que seus titulares exercem suas funções, está na hora de a sociedade medir com mais cautela o nível de credibilidade que o governo merece.

Jornais, ao contrário do que afirma S. Exa. revelando surpreendente ignorância, não são uma concessão pública. São empresas privadas. Fato que, no caso específico desta Gazeta e de tantos outros veículos que dignificam a imprensa nacional, não os impede de cumprir com fidelidade a sua função social – nela incluída a obrigação de esclarecer a opinião pública, como o fazemos agora, a respeito da confessada "esperteza" com que S. Exa. o governador do Paraná trata assuntos importantes. E enquanto a matéria fica jogada para as calendas, podem ficar sossegados até 31 de dezembro os parentes de S. Exa. encarapitados em vários cargos do governo paranaense. A recíproca, no entanto, não é verdadeira – pois até lá ficarão desassossegados todos os demais paranaenses, que esperavam do governador e dos deputados uma resposta única: o fim do nepotismo.

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