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Nestor Forster
Nestor Forster, encarregado de negócios da embaixada do Brasil em Washington, é o favorito para assumir a o cargo de embaixador do país nos EUA.| Foto: Divulgação

Depois de meses de indefinição, o presidente Jair Bolsonaro bateu o martelo sobre o novo embaixador do Brasil nos Estados Unidos. O nome indicado para a aprovação do Senado será o de Nestor Forster, que já trabalha na representação brasileira em Washington. A embaixada está sem titular desde abril, quando Sérgio Amaral foi removido do cargo. Em junho, Forster foi promovido a ministro de primeira classe e se tornou encarregado de negócios da embaixada brasileira, posto que fez dele uma espécie de “embaixador interino”, na ausência de alguém que estivesse oficialmente no comando da representação diplomática. Com a promoção, ele passou a ser visto como o sucessor mais provável de Amaral, até que o próprio Bolsonaro resolvesse embaralhar tudo, defendendo a nomeação do filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro.

“É um quadro exemplar, uma pessoa ativa, tem tudo para dar certo”, afirmou Bolsonaro durante a visita ao Japão, dias atrás. De fato, o perfil de Forster parece combinar as qualificações técnicas necessárias para um cargo tão relevante – talvez o segundo mais importante no Itamaraty depois do ministro das Relações Exteriores – e o ideário valorizado por Bolsonaro e por parte da população que o elegeu presidente. Diplomata desde 1985, Forster tem exercido vários postos nos Estados Unidos desde 1992: chefiou consulados brasileiros no país, inclusive o de Nova York, e foi chefe de dois setores da embaixada brasileira, o financeiro e o de política comercial. Conhecer a economia norte-americana e ter presenciado os altos e baixos do país nas últimas décadas dá a Forster as ferramentas para avaliar bem os interesses de Washington em suas relações comerciais com o Brasil, reforçando as convergências e tentando superar os potenciais pontos de conflito, especialmente diante das tendências protecionistas de Donald Trump.

Ao insistir em promover Eduardo Bolsonaro, que evidentemente não reunia as condições necessárias para ser embaixador, o presidente provocou um desgaste desnecessário

Forster também tem afinidades ideológicas com a plataforma bolsonarista. Segundo o perfil publicado pela Gazeta do Povo, o diplomata dá atenção especial à causa da defesa da vida desde a concepção e à defesa da liberdade religiosa, integrando as negociações para a formação de uma Aliança Internacional Contra a Intolerância Religiosa, projeto capitaneado por Brasil e Estados Unidos, mas que também envolve outros países. O engajamento de nações importantes nestas causas é fundamental especialmente em fóruns internacionais, como as Nações Unidas, onde a engenharia social é incentivada e países menores são pressionados a concordar com demandas que violam seus princípios. Brasil e Estados Unidos podem fazer frente a essa pressão – algo que, aliás, já vem sendo feito na ONU, com o Brasil tomando postura firme contra a promoção de um suposto “direito ao aborto” e da ideologia de gênero.

O currículo e as convicções de Forster deixam uma pergunta no ar. Tendo à disposição alguém qualificado, com décadas de experiência em representações diplomáticas brasileiras nos Estados Unidos, e alinhado ideologicamente com causas defendidas pelo governo, não teria sido muito melhor para Bolsonaro submeter o nome de Forster ao Senado assim que a embaixada em Washington ficou vacante? Ao insistir em promover o filho, que evidentemente não reunia as condições necessárias para o cargo, Bolsonaro provocou um desgaste desnecessário, tanto dentro do Senado – que, lembremos, tem reformas importantes para aprovar – quanto entre seus apoiadores. E, infelizmente, as circunstâncias nas quais Bolsonaro se decidiu por Forster dão a entender que o presidente teria continuado a defender Eduardo, pois foi preciso que o deputado federal anunciasse publicamente que estava desistindo de pleitear a embaixada para Bolsonaro, então, lançar o nome do encarregado de negócios em Washington.

Um governo com tantas batalhas importantes a travar em benefício do país não pode se dar ao luxo de desperdiçar energia criando controvérsia em assuntos nos quais existe uma solução simples, boa e consensual. A sucessão na embaixada brasileira nos Estados Unidos é um desses assuntos, em que questões de família se misturaram a questões de Estado e custaram tempo e apoio a Bolsonaro. Com a indicação – e, se possível, aprovação – de Forster, espera-se que esta página esteja definitivamente virada.

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