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Foto do incêndio na catedral de Notre-Dame de Paris.
Momento do incêndio quando cai o pináculo central da catedral de Notre-Dame. Geoffroy Van der Hasselt/AFP| Foto: AFP

Nesta segunda-feira (15) à tarde, muitos olhavam atônitos na televisão e na internet cenas que faziam lembrar o trágico 11 de setembro de 2001, embora em contextos completamente diferentes: a icônica Catedral de Notre-Dame de Paris pegava fogo. O incêndio se alastrou rapidamente pelas vigas de madeira do telhado e atingiram o pináculo central (também chamado de flecha) que desabou em chamas numa cena dramática.

É difícil descrever o quão importante é essa catedral para a França e para o mundo. Sendo uma referência para a cristandade, suas obras em estilo gótico começaram em 1163, no período da monarquia, com o Rei Luis VII, e foram concluídas em 1345, tendo portanto mais de 850 anos de existência. O monumento fica no coração da cidade de Paris, e viu passar diante de si boa parte da história da França: a Revolução Francesa, o Império de Napoleão, as Repúblicas e as duas Guerras Mundiais. A catedral é o monumento histórico mais visitado do mundo – 35 mil turistas passam lá por dia, totalizando aproximadamente 13 milhões por ano.

Os bombeiros agiram rapidamente, mas a extensão das chamas era difícil de conter. A ideia de lançar cargas d’água com aviões estava descartada devido à possibilidade de danificar ainda mais a estrutura. Após 9 horas de trabalho árduo, os bombeiros conseguiram extinguir o fogo. No final, a estrutura de pedra se manteve, mas os danos foram colossais. Felizmente, objetos e relíquias valiosas, como a coroa de espinhos de Cristo, foram salvos a tempo. Entretanto, a extensão da tragédia ainda não foi devidamente mensurada.

A catedral necessitava de reformas urgentes desde pelo menos 2017

O procurador da capital francesa abriu um inquérito para investigar as causas do incêndio. A princípio a polícia trabalha “com a hipótese de que se trata de um acidente” decorrente das reformas que estavam sendo efetuadas justamente no pináculo que tombou.

A catedral, devido à sua idade, às intempéries e à poluição, necessitava de reformas urgentes desde pelo menos 2017, e o arcebispo de Paris, diante da falta de interesse da população francesa em financiar a reforma, procurou angariar verbas nos Estados Unidos para realizar as obras.

É muito cedo ainda para dizer que houve algum ato intencional, mas, descartada essa hipótese, como um monumento de tamanha importância para humanidade pode ter ficado à mercê de uma tragédia como essa?

Não é possível apontar uma causa única, mas ao lembrarmos do que aconteceu recentemente aqui no Brasil com o incêndio do Museu Nacional, fica claro que há na sociedade ocidental uma indiferença e um descaso muito grandes em relação ao seu passado. As suas conquistas civilizacionais não são mais exaltadas como outrora e, gradualmente, perderam-se as bases nas quais se assentavam as razões de suas escolhas políticas e sociais. Essa perda do sentido histórico, cedo ou tarde, se traduziria no descaso com os monumentos que simbolizam o passado. Tragédias como a de Notre-Dame e a do Museu Nacional devem servir para despertar as consciências sobre os valores fundamentais da civilização e do que se pode fazer para preservá-los.

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Felizmente, foram muitas as mensagens de apoio à França, vindas dos mais diversos líderes mundiais, e rapidamente conseguiu-se levantar 700 milhões de euros para a reconstrução da catedral, embora, pela extensão dos danos, deve ser necessário muito mais.

O presidente francês, Emmanuel Macron, fez um pronunciamento à nação nesta terça-feira (16), disse que “o incêndio atingiu profundamente o espírito e o coração da França e do mundo inteiro”, e prometeu que reconstruirá a catedral “ainda mais bela” em cinco anos.

É difícil acreditar que o presidente conseguirá cumprir o prazo. Contudo, o mundo espera com inquietude que as obras de restauração deixem o monumento o mais próximo possível do que era antes da catástrofe.

Que o pesar causado pela destruição da Catedral de Notre-Dame de Paris possa servir de exemplo e de ponto de inflexão para a recuperação de nossa história.

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