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Ata do Copom alerta para efeitos de médio e longo prazo de medidas como a PEC dos Combustíveis, ainda que não a mencione pelo nome.
Ata do Copom alerta para efeitos de médio e longo prazo de medidas como a PEC dos Combustíveis, ainda que não a mencione pelo nome.| Foto: Geraldo Bubniak/AEN

O Comitê de Política Monetária (Copom) divulgou, na terça-feira, a ata de sua reunião do início de fevereiro, na qual a taxa Selic foi novamente elevada em 1,5 ponto porcentual, voltando à casa dos dois dígitos e chegando a 10,75% ao ano. O documento, que aprofunda o comunicado emitido logo após o encerramento da reunião, já antecipa que novos aumentos na Selic continuarão serão necessários; mas, ao contrário do que vinha sendo feito nas ocasiões anteriores, quando já anunciava de antemão o tamanho dos apertos futuros, desta vez o Copom se limitou a afirmar que provavelmente novas elevações da Selic não serão tão intensas, mas sem dar nenhum número específico – há muita incerteza no ar, afirma a ata.

A ata mostra que há muitos aspectos positivos e negativos a levar em consideração. O Copom destacou os bons indicadores do mercado de trabalho e dos setores de indústria, comércio e serviços nos últimos meses de 2021, mas pondera que a confiança dos empresários e dos consumidores está em queda e eventos climáticos estão prejudicando safras, com efeito bastante negativo sobre o agronegócio, um motor importante da economia nacional. A inflação ainda preocupa muito – a reunião ocorreu antes da divulgação do IPCA de janeiro, que veio menor que o dos últimos meses (0,54% contra 0,73% em dezembro e 0,95% em novembro), mas elevou o acumulado dos últimos 12 meses (10,38% contra 10,06% ao fim de dezembro). Nas projeções do Copom, o IPCA de 2022 ficará perto de 5,4%, novamente acima do limite máximo de tolerância da meta de inflação deste ano.

O populismo é inflacionário. Ele sempre cobra sua fatura, mais cedo ou mais tarde

O Copom reconhece que há pressões inflacionárias sobre as quais não há muito controle, como uma possível elevação no preço do petróleo ou nos juros norte-americanos, que podem levar a uma desvalorização do real. Mas também faz – na verdade, repete – um alerta sobre o perigo de se continuar adiando reformas macroeconômicas como a tributária e a administrativa, algo que depende apenas do governo e do Congresso Nacional: “o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para o crescimento sustentável da economia. Esmorecimento no esforço de reformas estruturais e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, diz a ata.

A novidade está em um aviso mais específico: “mesmo políticas fiscais que tenham efeitos baixistas sobre a inflação no curto prazo podem causar deterioração nos prêmios de risco, aumento das expectativas de inflação e, consequentemente, um efeito altista na inflação prospectiva”. Trata-se de linguagem genérica ma non troppo, já que todos entenderam o recado: o BC está se referindo às tentativas de reduzir o preço dos combustíveis, seja qual for o modelo de redução de impostos escolhido pelo governo e pelo Congresso. Em recente entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, chamou os projetos de “bomba fiscal” e defendeu apenas a desoneração do diesel. “Esta proposta [a do Senado, cujo custo pode chegar a R$ 110 bilhões anuais] tem o potencial de anular todos os ganhos que ela busca, pela possibilidade que tem de provocar uma alta do dólar, com reflexos nos preços dos combustíveis. É uma insensatez”, afirmou Guedes, em sintonia com o aviso do Copom. Não é preciso ter muita memória para lembrar que Dilma Rousseff quis reduzir o preço da energia elétrica na canetada, com a MP 579, e bagunçou tanto o setor que as tarifas voltaram rapidamente ao mesmo nível pré-MP. O Copom e Guedes estão avisando que a PEC dos Combustíveis pode ser para Jair Bolsonaro o que a MP 579 foi para Dilma.

Em outras palavras, o que o Copom e o Ministério da Economia estão tentando dizer é que o populismo é inflacionário. Ele sempre cobra sua fatura, mais cedo ou mais tarde. A história brasileira recente é pródiga em exemplos de desastres causados pelo intervencionismo, pela gastança e pelo abandono do ajuste fiscal, mas ainda assim avisos como os da última ata do Copom tendem a ser ignorados. Se o dólar e a inflação seguirem subindo, puxando também os juros para cima, ninguém poderá dizer que não havia como imaginar o que estava por vir.

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