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Cruz Machado, uma das cidades mais pobres do Paraná.
Cruz Machado, uma das cidades mais pobres do Paraná.| Foto: Brunno Covello/Arquivo Gazeta do Povo

Nas últimas semanas, muito se falou sobre o Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), seus discursos, ideias, debates e, principalmente, sobre a proposta de reformar o capitalismo para adequá-lo às exigências sociais e ambientais do mundo moderno. O Fórum é uma organização sem fins lucrativos e, embora tenha ramificações em outros eventos, reuniões e congressos, sua expressão máxima são as reuniões anuais realizadas na cidade de Davos (Suíça),com a presença de empresários, políticos, economistas, ambientalistas, cientistas, jornalistas e intelectuais diversos, com a finalidade de debater os temas mais relevantes para o mundo, e de onde saem documentos, manifestos e propostas.

O Fórum foi fundado em 1971 pelo economista Klaus M. Schwab, professor na Universidade de Genebra, em função de sua preocupação com os problemas do planeta e a conclusão de que era preciso haver um debate mundial que tivesse repercussão no maior número possível de países e nas políticas e práticas de governos, empresas e organizações sociais. A julgar pela importância dada aos resultados do WEF, o objetivo de seu fundador vem sendo atingido. Muito já foi publicado nos mais diversos meios de comunicação e informação, mas o tema essencial derivado da reunião deste ano pode ser resumido como a “necessidade de reformar e aperfeiçoar o capitalismo”, a fim de que seu funcionamento obedeça a novos princípios norteadores.

Desde quando Karl Marx produziu a mais contundente análise sobre os defeitos do capitalismo – especialmente a crença de que o sistema beneficiava os proprietários dos meios de produção e a elite que o conduzia, à custa do sofrimento e empobrecimento dos operários –, as alternativas, sobretudo as experiências socialistas reais, se revelaram desastrosas, não resolveram o problema da pobreza e descambaram em violência e assassinato de milhões de pessoas. O capitalismo pode ser definido, simplificadamente, como um sistema fundado no direito de propriedade privada dos meios de produção, na organização empresarial do processo produtivo, no trabalho assalariado e no mercado livre. Por “mercado livre” deve-se entender o livre jogo de oferta, procura, competição e formação de preços nos mercados de bens, serviços, trabalho, crédito, ideias e negócios.

O capitalismo pautado na liberdade dele decorrente se tornou um sistema capaz de enriquecer os países e melhorar o padrão de vida dos próprios operários, mas não está livre de defeitos

Já o socialismo real (ou comunismo, como o exemplo da experiência soviética, já que as duas palavras são usadas ora significando a mesma coisa, ora com nuances diferentes) seria um sistema coletivo de produção, sem a propriedade privada dos bens de capital, sem livre mercado de trabalho, produção comandada pelo Estado, controle centralizado da oferta, da procura e dos preços. Em resumo: uma economia planejada, controlada e dirigida ditatorialmente pelo sistema estatal. Em sua ideia mais pura, nunca testada, até o mesmo o Estado seria eliminado e tudo seria comunitário, pois, segundo o próprio Marx, o Estado seria ele próprio uma classe privilegiada, uma elite com poderes de expropriar e submeter o operariado.

Comunismo puro, sem nenhuma classe e sem a existência do próprio Estado, nunca existiu; logo, não passa de uma ideia jamais submetida às agruras da vida real. Quanto ao socialismo real, como o testado durante 70 anos na União Soviética, mesmo com a estatização da maior parte dos meios de produção, continuaram existindo, em alguma escala, a propriedade privada, a produção feita por particulares e as trocas livres. Os ditadores comunistas assim admitiam porque, como havia alertado o economista Ludwig von Mises em 1923, sem mercado não há formação de preços relativos, sem preço não há cálculo econômico e, sem cálculo, não há sistema funcionalmente viável.

Ao longo de sua história, o capitalismo mostrou sua capacidade de aumentar o produto/hora do trabalho, promover o rápido crescimento da produção nacional e elevar o produto por habitante (mesmo com o rápido crescimento da população mundial). Ademais, o capitalismo pautado na liberdade dele decorrente criou enorme revolução no progresso da tecnologia e se tornou um sistema capaz de enriquecer os países e melhorar o padrão de vida dos próprios operários. Mas o capitalismo não está livre de defeitos, entre os quais há quatro incomodando as pessoas preocupadas com o bem-estar da humanidade e os rumos do planeta: a desigualdade de renda, a pobreza, o desemprego e os prejuízos ambientais. Convém mencionar que o mundo tinha 1 bilhão de habitantes há apenas 190 anos, ou seja, em 1830. Hoje já são 7,7 bilhões, e a necessidade de sustentar tanta gente responde, em parte, pelos próprios defeitos do sistema capitalista.

De certa forma, os problemas do capitalismo – assim como os problemas das sociedades em geral – são reflexos dos vícios individuais e equívocos coletivos. Egoísmo, ânsia de poder, insensibilidade social e a busca desesperada por riqueza são traços dos seres humanos, com variações derivadas das diferenças individuais, e certamente estão e estarão presentes em qualquer sistema. Mas foi o comunismo tal qual conhecido nas experiências reais onde ele foi implantado que permitiu a revelação da pior característica do ser humano: a vocação para a violência e o extermínio de vidas humanas. Somente essa razão já basta para se buscar o aperfeiçoamento do capitalismo e das liberdades individuais e sociais.

Schwab surge, então, com a proposta do chamado “capitalismo de todas as partes interessadas”: acionistas, dirigentes, trabalhadores, clientes, fornecedores, governo, sociedade e o meio ambiente. Isto é, à medida que as nações onde o capitalismo for aperfeiçoado consigam reduzir a desigualdade, diminuir a pobreza, proteger os desempregados vítimas da tecnologia e automação, incorporar os perdedores, reduzir a corrupção e proteger o meio ambiente, mais o sistema de livre empresa e livre mercado prosperará e impedirá o crescimento das propostas totalitárias, ditatoriais e ceifadoras das liberdades humanas e direitos individuais. A opção tão divulgada de “socialismo e liberdade”, entendendo por socialismo aquilo que ele é, não as ideias bonitas de preocupações sociais, simplesmente não existe.

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