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Trabalhadora na linha de produção de uma indústria: crédito é fundamental para manutenção dos empregos
Trabalhadora na linha de produção de uma indústria: setor foi responsável por 53,6 mil novos postos de trabalho em julho.| Foto: Gelson Bampi/Sistema Fiep

“O Brasil voltando à normalidade”, afirmou o presidente Jair Bolsonaro. “Notícia extraordinária”, disse o ministro Paulo Guedes. De fato, é preciso comemorar o fato de que o Brasil voltou a gerar empregos com carteira assinada em julho, depois de quatro meses seguidos de queda no indicador. Os 131 mil novos postos de trabalho, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), não compensam nem 10% da devastação causada pela paralisação das atividades econômicas durante a pandemia de coronavírus – foram 1,53 milhão de empregos perdidos entre março e junho. Mesmo assim, podem ser um indício de que a recuperação está a caminho, um indício que ainda precisa ser confirmado pelos números dos próximos meses, e que por isso pede também alguma cautela.

A situação do emprego continua pressionada Brasil afora. Mesmo com várias cidades e estados afrouxando lentamente as restrições impostas para tentar conter a disseminação da Covid-19, o ritmo dos negócios ainda deve demorar para retornar ao patamar pré-pandemia. Muitos seguem temerosos de frequentar locais como restaurantes e shopping centers, enquanto outros, por terem perdido fontes de renda ou devido à incerteza econômica, estão adiando aquisições de valor substancial ou de itens mais supérfluos para evitar endividamento ou ter reservas para suportar dias mais difíceis. O risco para os empregos continua forte a ponto de Bolsonaro e Guedes estarem considerando uma segunda prorrogação dos acordos de redução de salário e jornada ou suspensão do contrato de trabalho, criados pela Lei 14.020/2020, oriunda da Medida Provisória 936.

A continuidade da recuperação do emprego ainda depende de muitos fatores, que vão da prudência dos gestores públicos à colaboração da população para frear o coronavírus

Na avaliação do governo, foi justamente a MP 936 que impediu uma catástrofe ainda maior durante a pandemia. Dados do Ministério da Economia mostram que 16 milhões de acordos envolveram 9,6 milhões de trabalhadores. É improvável que todos eles tivessem sido demitidos caso os acordos não fossem possíveis, mas certamente a necessidade de reduzir gastos com folha por parte das empresas teria levado a mais demissões se não houvesse a chance de manter todos os funcionários com salários reduzidos. Mas, se a MP 936 mostra que o quadro poderia ter sido pior, por outro lado também se sabe que outras medidas desenhadas pela equipe econômica para proteger o emprego não tiveram o efeito esperado (por circunstâncias muitas vezes alheias à vontade do governo), especialmente a concessão de crédito para micro e pequenas empresas no momento inicial da pandemia.

Guedes enxergou o dado do Caged como uma prova de que o país já iniciou a prometida “recuperação em V”, ainda que seja um “V da Nike”, como disse o ministro, referindo-se a uma queda brusca e uma retomada em ritmo mais lento. Essa recuperação, no entanto, começa de forma bem desigual. O resultado de julho foi puxado pela indústria de transformação, que criou 53,6 mil vagas – a atividade industrial, medida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), está quase retornando aos níveis pré-pandemia. Mas o setor de serviços continua demitindo, tendo eliminado quase 16 mil postos de trabalho no mês passado. Mais alentador é o fato de todas as cinco regiões e quase todos os estados do país terem tido saldo positivo – as exceções foram Rio de Janeiro, Sergipe e Amapá.

Ainda há muita incerteza rondando o futuro da atividade econômica durante a pandemia. Várias cidades e estados têm vivido uma série de idas e vindas, ora restringindo os negócios, ora liberando-os, em um vaivém que muitas vezes prescinde de critérios claros, ou pelo menos transparentes para o público e para os empreendedores, cuja resiliência tem sido admirável, mas não tem como ser infinita. A continuidade da recuperação do emprego ainda depende de muitos fatores, que vão da prudência dos gestores públicos à colaboração da população na adoção de comportamentos que dificultem a disseminação do coronavírus.

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