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Este jornal deu como manchete de sua edição do último domingo a revelação de que o Paraná já perdeu pelo menos R$ 1,3 bilhão de recursos do PAC – o Programa de Aceleração do Crescimento do governo Lula – para investimentos no estado até o fim deste ano. O valor corresponde a cerca de 8% do montante previsto em 2007, quando o PAC foi lançado, de R$ 16 bilhões. Pior: dos 20 projetos que estavam definidos na ocasião, apenas 3 foram concluídos; os demais caminham em marcha lenta, sequer foram iniciados ou, então, simplesmente cancelados.

Tecnicamente, esse baixo desempenho encontra diversas explicações, dentre as quais os entraves financeiros, obstáculos ambientais e má gestão dos contratos. Mas ficou por conta do ministro do Pla­­nejamento, o paranaense Paulo Bernardo, que, juntamente com a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, é um dos coordenadores do PAC, uma explicação que adentra a área política: as poucas obras previstas e os atrasos no cronograma devem-se, em grande parte, também ao pouco empenho do governador Roberto Requião.

Literalmente, disse o ministro: "Muitas pessoas me perguntam por que há menos obras do PAC no Paraná do que em outros estados. É porque há governadores que brigam e vêm aqui para Brasília discutir com os ministros e com o presidente, para obter investimentos em infraestrutura. O Paraná não tem dado tanta ênfase nesse aspecto".

Foi o que bastou para seguir-se uma troca de farpas entre o autor da frase e o governador responsabilizado pela performance insuficiente do PAC. Coerentemente, os petardos disparados por Requião ficaram bastante abaixo da virtuosa linha de firmeza que se deveria esperar de um alto mandatário público e descambou para aquele linguajar característico não recomendado pela liturgia nem reproduzível neste espaço.

Não é objetivo deste comentário imiscuir-se nes­­sa discussão de caráter pessoal, mas de reconhecer que, ao personalizar em Requião a responsabilidade pela preterição do Paraná, relativamente a outros estados, nas obras do PAC, o ministro Paulo Bernardo acabou por expor um problema que não tem nada de novo: os paranaenses, com ênfase para a atuação de seus políticos, lutam muito pouco pelos interesses do estado.

Multiplicam-se os exemplos históricos em que, por falta de empenho de nossos representantes, o Paraná deixou de auferir benefícios aos quais tinha direito ou legitimidade para pleitear. Já se passou, apenas para citar um exemplo clássico, o tempo em que seria politicamente viável federalizar as universidades estaduais, cujo peso financeiro para sua manutenção impede o estado de investir recursos em áreas da educação que são de sua constitucional competência.

Da mesma forma, ano após ano, o Paraná é sacrificado no bolo da distribuição das verbas e programas do Orçamento da União. Estados com o mesmo perfil econômico ou até melhor providos de recursos próprios auferem transferências muito mais substanciosas – a despeito de contribuírem muito menos que o Paraná para a formação da riqueza nacional. Não há como desconhecer que este resultado negativo se deve principalmente à timidez com que defendemos nossos interesses ou ao desvio de nossas energias, tradicionalmente consumidas nas brigas de aldeia entre os que deveriam nos representar.

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