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| Foto: Drew Angerer/AFP

Os Estados Unidos reforçaram na última semana a promessa de se retirarem do Acordo de Paris, que tem como objetivo organizar ações para reduzir e mitigar as mudanças climáticas. No encontro do G20, o presidente americano Donald Trump foi o único a não aceitar os termos do documento final em que os países se comprometiam a levar adiante o que foi acordado na França em 2015.

Trump fez o típico cálculo populista. Entregou uma promessa de campanha, de refutar o acordo, colhendo no curto prazo algum fôlego político entre seus apoiadores. Os custos da decisão, no entanto, são todos de longo prazo.

O Acordo de Paris é resultado de uma negociação de mais de três décadas que evoluiu ao mesmo tempo em que a ciência do clima se tornou mais precisa. O debate sobre aquecimento global – e as mudanças climáticas que viriam em consequência – se tornou um tema de negociação constante no início dos anos 90. Ele culminou com a assinatura do Protocolo de Kyoto, em 1997, um documento que impunha metas de cortes de emissões apenas a países desenvolvidos e do qual os maiores poluidores da época, os Estados Unidos, ficaram de fora.

Foram necessários quase 20 anos para se obter um acordo melhor, com metas inclusive para países em desenvolvimento, como China, Índia e Brasil. É preciso admitir que o documento assinado em Paris não tem metas obrigatórias e os alvos perseguidos foram oferecidos pelos próprios signatários, o que torna sua eficácia dependente em grande parte da boa vontade das nações envolvidas. Mas é um avanço enorme por colocar a assinatura de 195 países na mesma página.

Nesses 20 anos, a ciência do clima evoluiu o suficiente para reduzir dramaticamente as dúvidas dos signatários. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que reuniu centenas de pesquisas sobre clima sob coordenação da ONU, não deixa dúvidas de que há uma tendência de aquecimento do globo.

As críticas mais consistentes ao IPCC não se referem ao fato fundamental de que o clima está mudando, mas às consequências do fenômeno. Por trabalhar com projeções sobre o futuro, é natural que o relatório traga diferentes nuances de incerteza e que elas sejam alvo de polêmica no meio científico. Mesmo assim, a maioria dos cientistas concorda que há chances muito grandes de as temperaturas na Terra subirem nas próximas décadas a um nível em que haverá consequências graves para a agricultura, a vida nas cidades e a saúde das pessoas.

Nas projeções do IPCC, as emissões de gases de efeito estufa precisam cair pouco mais de 40% até 2050, em relação a 2010, para o aquecimento do globo ficar abaixo dos 2°C (em relação à temperatura antes da Revolução Industrial). Este é o nível acordado em Paris e considerado ainda seguro pelo IPCC. A ação coordenada de forma global para se conter as emissões é, portanto, uma espécie de seguro contra a incerteza do que a elevação descontrolada da temperatura da Terra pode ensejar.

Esses argumentos, no entanto, não foram suficientes para Donald Trump manter os EUA no Acordo de Paris. Ele preferiu prometer a geração de empregos ligados à energia suja, em vez de aproveitar o poderio tecnológico americano para colocar o país como um dos grandes beneficiados da transição energética que ocorrerá nas próximas décadas.

Ao se posicionar contra o acordo em um fórum como o G20, Trump também ajuda a corroer a liderança americana em instituições multilaterais que formam a herança mais importante do pós-guerra. Essa decisão se soma ao desprezo de Trump à Otan, ao FMI é à OMC. Isso em um momento em que esse papel de liderança não tem um herdeiro claro.

No longo prazo, esse populismo antiglobalista pode se transformar em um custo para a própria população americana, que poderá ser menos afluente e influente do que tem potencial de ser. Para o resto do mundo, o vácuo deixado pelos EUA pode significar uma dificuldade maior de se conseguir o desenvolvimento.

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