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Segundo estatísticas oficiais, a população da China atual passa de 1,35 bilhão de habitantes e estima-se que, em função da política compulsória de filho único, somente a partir de 2030 a população do país começará a decrescer. Trata-se de um país sui generis, com particularidades únicas, que tem desafios específicos diferentes dos demais países. Embora a Índia tenha população de 1,25 bilhões de habitantes – portanto, parecida com a China nesse aspecto –, em termos de economia, cultura, regime político e forma de vida, a China difere dos problemas indianos em grau e tipo.

O crescimento econômico depende do respeito a uns poucos princípios básicos ensinados pela teoria econômica

A China está entre os países que mais sofreram com a fome e as péssimas condições de vida. Após o fim da guerra com o Japão, com a rendição japonesa em 1945, a China experimentou anos terríveis de pobreza e fome, culminando com a proclamação da República Popular da China por Mao Tsé-tung, em 1949, iniciando a era da China comunista. Líder de um governo violento, eivado de repressão e períodos de fome – estima-se que entre 1958 e 1961 mais de 45 milhões de pessoas morreram de fome, 70 milhões de vidas foram exterminadas durante o regime comunista, com destaque para a execução de mais de 2 milhões de proprietários rurais –, Mao viu a superpopulação do país, cuja população praticamente duplicou até a morte do ditador, em 1976, chegando perto de 950 milhões de habitantes.

Em 1978, a economia chinesa sofreu intensa reviravolta com as reformas feitas por Deng Xiaoping, cujas bases eram a introdução de instrumentos capitalistas – como o direito de propriedade privada, liberdade de comércio e direito de lucro –, além de mudanças políticas implantadas sem abandonar a estrutura comunista. Deng Xiaoping fez aquilo que o Brasil reluta em fazer definitivamente: aplicar um choque de capitalismo, estimular a livre iniciativa, reconhecer a meritocracia (pela qual, os melhores merecem se sair melhor, lucrar mais e ganhar mais), louvar e proteger o direito de propriedade e estimular a sociedade a enriquecer.

Quanto maior for a produção do país e quanto maior o número de pessoas e empresas com sucesso, maior será o volume de tributos arrecadados pelo governo, com o que poderá fazer programas sociais de transferência de renda e superar a pobreza. Ao introduzir pilares capitalistas, ainda que de forma parcial, a China se viu obrigada a adotar os princípios de política econômica apropriados a países capitalistas, tais como equilíbrio nas contas do governo, respeito à moeda nacional a fim de evitar a inflação, realismo cambial como meio de viabilizar o comércio exterior e a sobrevivência das empresas exportadoras, controle do crédito disponível para financiamento e política de taxa de juros reais como instrumento para aumentar a poupança nacional necessária para o crescimento da produção de bens de capital destinados aos investimentos.

Se há algo a aprender com a China é que o capitalismo ainda é o melhor sistema para a criação de riqueza e que o crescimento econômico depende do respeito a uns poucos princípios básicos ensinados pela teoria econômica. Foi a adoção desse figurino e o respeito a certas regras da economia capitalista que permitiram à China, em menos de meio século, começar a deixar para trás o fantasma da fome que tanta gente matou no passado. A China tem o privilégio de dividir seu Produto Interno Bruto (PIB) em 60% de bens de consumo e 40% de bens de capital. Isso só é possível porque a taxa de poupança – que nada mais é do que a renda nacional não gasta em consumo – é de 40% e permite ao país realizar investimentos em infraestrutura física, empresarial e social.

Essa realidade está dotando a China das bases para que a produção – e com ela, a produtividade – cresça a taxas superiores a 7% ao ano, levando a expressivo aumento da renda por habitante anualmente e sinalizando com a possibilidade de o país vencer a pobreza nas próximas décadas. O Brasil, por sua vez, tem taxa de poupança oscilando entre 17% e 19% da renda nacional (que é exatamente igual ao PIB), logo, fazendo que o PIB brasileiro tenha mais de 80% em bens de consumo. A saída da pobreza exige o aumento da taxa de investimento como proporção do PIB e o respeito aos princípios básicos da economia capitalista.

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