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Diz o ditado popular que “quem fala muito diz bom dia a cavalo” – ou, no caso do ex-presidente Lula, a cão-guia, a julgar pelo conteúdo de seu depoimento à Polícia Federal no último dia 4. Desde então, e até antes disso, Lula falou muito em público e não fez questão de esconder que a fachada do “Lulinha paz e amor” tinha acabado, como no famoso discurso da jararaca. Mas as gravações que tiveram seu sigilo levantado pelo juiz Sergio Moro é que mostram o mais autêntico Lula. E ele está bem longe do Lula da carta aberta, em tom lacrimoso, divulgada na noite de quinta-feira.

São tantas as conversas emblemáticas que acaba sendo necessário fazer um recorte. Não podemos deixar de mencionar a conversa com o prefeito Eduardo Paes, que ironicamente repreende Lula por ter um sítio em um lugar como Atibaia e o ex-presidente apenas ri. Também não se pode ignorar três referências absurdamente machistas: primeiro, os comentários sobre as deputadas Maria do Rosário e Fátima Bezerra, na conversa com o ex-ministro Paulo Vannucchi; segundo, quando Lula, em conversa com Dilma, faz piada com a assessora Clara Ant, do Instituto Lula, que teria sido surpreendida por cinco homens da PF enquanto dormia sozinha e “pensou que era presente de Deus” (Dilma, por sua vez, gargalha); e, por fim, quando Lula e Jaques Wagner se regozijam com os xingamentos recebidos pela ex-petista Marta Suplicy na manifestação de 13 de março.

Os órgãos do governo, para Lula, precisam estar a seu serviço, ou a serviço do partido

Mas é com outras frases, nem sempre tão pitorescas quanto as que vêm sendo mais divulgadas, que Lula comprova o que já dizíamos dele havia muito tempo: que o ex-presidente é um vândalo das instituições democráticas, pelas quais sempre demonstrou um verdadeiro desprezo. Os órgãos do governo, para Lula, precisam estar a seu serviço, ou a serviço do partido. É por isso que Lula cobra o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, sobre a atuação da Receita Federal. É por isso que o ex-presidente cita o novo ministro da Justiça, Eugênio Aragão, em duas conversas: a Vannucchi, Lula diz que Aragão “deveria cumprir um papel de homem, porque o Aragão parece nosso amigo, mas tá sempre dizendo ‘olha...’”; e, ao ex-ministro Gilberto Carvalho, Lula diz esperar que Aragão “tenha pulso”, ou seja, tenha a força que José Eduardo Cardozo não teve para colocar um cabresto na Polícia Federal. É por desprezo às instituições que Lula diz ao deputado petista Wadih Damous que os integrantes da força-tarefa da Lava Jato “têm que ter medo”. É por achar que até a Presidência da República existe para lhe servir que Lula pede a Wagner que fale com Dilma, para que intervenha em seu favor junto à ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal.

Ao advogado e ex-deputado Sigmaringa Seixas, Lula reclama da “formalidade” do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e solta uma frase reveladora: “Ele recusou quatro pedidos de investigação do Aécio e aceitou a primeira de um bandido do Acre contra mim. Essa é a gratidão dele por ele ser procurador”. É assim que um ex-presidente da República enxerga as indicações que faz para cargos-chave do país: uma troca de favores em que o nomeado passa a dever gratidão eterna, e não a escolha da pessoa mais capaz para exercer determinada função em prol do país.

No fim, não houve instituição com a qual Lula não tenha se indisposto graças à divulgação das conversas, e agora o ex-presidente tenta consertar o estrago com sua carta aberta cheia de afagos. Nela, Lula afirma que sabe, “como todo ser humano, distinguir o certo do errado; o justo do injusto”. Se efetivamente é assim, por que a opção contumaz de Lula pelo errado e pelo injusto?

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