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Três entrevistas foram destaque na semana finda nos meios de comunicação e devem, pela importância dos interlocutores, merecer uma reflexão mais apurada. Duas delas, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do senador eleito por Minas Gerais, Aécio Neves, ao jornal Folha de S. Paulo, quando comentaram o resultado da eleição presidencial, o desempenho da oposição e o futuro do PSDB; a terceira entrevista foi da presidente eleita Dilma Rousseff, em sua primeira coletiva de imprensa, quando respondeu a questões que vão passar pelo seu crivo a partir de 1.º de janeiro, ao ser empossada no lugar de Lula.

Praticamente esquecido em boa parte da campanha presidencial, FHC colocou o dedo na ferida em torno dos equívocos cometidos pelos tucanos ao longo da campanha eleitoral deste ano e desde já passa a cobrar uma mudança de postura da oposição para cumprir com o seu papel diante de mais um mandato petista na Presidência da República. Com a autoridade de ser um dos fundadores do tucanato e o seu presidente de honra, FHC não poupou a legenda diante da maneira com que vem sendo conduzida nos últimos tempos, advertindo que "não está mais disposto a dar endosso a um PSDB que não defenda a sua história". O recado não poderia ser mais direto diante da conhecida estratégia lulo-petista de estigmatizar o PSDB como um partido privatizante que entregou as empresas públicas ao capital privado. Na visão do ex-presidente, a passagem para a iniciativa privada de empresas como as teles, a Vale do Rio Doce e Embraer foram boas para país, faltando à oposição – inibida e acuada diante da enxurrada de críticas do PT estrategicamente colocadas como arma de campanha – mostrar isso para a população. Mirando o futuro, o ex-presidente também defendeu mais agilidade para o PSDB, alertando que não é mais possível "enrolar" a definição em torno do nome do candidato que terá a responsabilidade de tentar quebrar a hegemonia petista que irá completar 12 anos em 2014. Na sua visão, a decisão, seja ela qual for, deve ocorrer dentro de dois anos, de modo a evitar a demora na indicação, como ocorreu com José Serra no último pleito.

Entendimento convergente externou o senador eleito Aécio Neves, que propõe a refundação do PSDB como forma de o partido recuperar a sua identidade. Para Aécio, o caminho deve começar pela reestruturação do programa partidário ainda em 2011, com os tucanos passando a defender, "sem constrangimentos", as privatizações feitas no governo de FHC, e ao mesmo tempo ressalvando, de forma definitiva, que empresas como o Banco do Brasil e a Petrobras devem ser mantidas como estatais.

Pelos lados da situação, Dilma Rousseff, já despida da condição de candidata e falando como presidente eleita, tem mostrado, nos primeiros contatos com jornalistas, equilíbrio, disposição para o diálogo e revelado alguns pontos de vista que ficaram, de certa forma, ambíguos com Lula. Podemos citar, a propósito, a disposição de continuar com o processo de reforma agrária, salientando, porém, que não irá compactuar com ilegalidades como invasões de prédios públicos ou de propriedades produtivas. Também qualificou como "barbárie" a pena de morte por apedrejamento à qual foi condenada a iraniana Sakineh Ashtiani, acusada de adultério e envolvimento na morte do marido. A posição de Dilma, ainda que seja apenas como presidente eleita, não deixa de se contrapor à postura do governo Lula, de ampla leniência com o Irã. No campo político-institucional, cumprindo o papel que se espera de um presidente, Dilma defendeu a democracia, a liberdade de imprensa e a disposição de governar para todos.

Enfim, tanto Fernando Henrique Cardoso como Aécio Neves, na oposição, e Dilma Rousseff, na Presidência da República, têm papéis importantes a cumprir a partir de janeiro de 2011, como contribuição à continuidade do aperfeiçoamento do processo político brasileiro. FHC e Aécio oxigenando o PSDB, que se consolidou como maior força política oposicionista, e Dilma respondendo à altura as expectativas do eleitorado que a sufragou nas urnas como a primeira mulher a chegar à Presidência da República.

Inúmeros são os desafios que o país tem a enfrentar no caminho do seu desenvolvimento econômico e social. A começar pelo cumprimento da agenda de campanha do PT que engloba desde temas recorrentes como combate à miséria, maior acesso à saúde e à educação, melhor aparelhamento dos organismos encarregados da segurança pública, até questões mais complexas como as necessárias e aguardadas reformas, a exploração do pré-sal, a redução dos juros e a política externa. Para todas essas questões, tanto situação como oposição devem estar atentas, cada qual em seu front exercendo de forma responsável a sua missão.

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