• Carregando...

A manutenção das aposentadorias dos ex-governadores paranaenses, benefício claramente inconstitucional a partir de 1988, é mais um dos tantos descalabros cometidos por parlamentares. Em Brasília, as manobras que vêm sendo urdidas na Câmara Federal para salvar o mandato da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) escancaram de vez a certeza de que o político brasileiro, salvo honrosas exceções, não está nem aí para a opinião pública. Filha do notório Joaquim Roriz, ex-governador do Distrito Federal, que renunciou para fugir à cassação, Jaqueline, ao tempo em que era deputada distrital em Brasília, foi flagrada num vídeo recebendo R$ 50 mil em dinheiro vivo do esquema de corrupção montado na capital federal. Eleita ano passado para a Câmara dos Deputados, Jaqueline luta agora para não perder o mandato, já que responde a um processo de cassação no Conselho de Ética por ter embolsado a dinheirama toda.

E pelas manifestações que já tem recebido de seus colegas, não faltará apoio para garantir a sua permanência na Casa. Mais uma vez o corporativismo parece que falará mais alto para impedir qualquer ameaça ao status quo dominante. Nesse caso, nem tanto pelos belos olhos da deputada, mas para prevenir dificuldades futuras para todos. Explica-se: temem os deputados que, em caso da cassação do mandato de Jaqueline por um delito cometido ao tempo em que não era deputada federal, seja aberto um precedente perigoso, com a lei supostamente retroagindo para punir a parlamentar faltosa.

Como muitos dos detentores de mandato na Câmara Federal têm telhado de vidro, a preocupação é que se consolide o entendimento de que o que vale para um passe a valer para todos, o que não interessa a ninguém. A saída mais fácil, então, será fazer vistas grossas à falta cometida por Jaqueline. A vida segue e todos ficam satisfeitos.

Ainda que as evidências contra o político faltoso sejam as mais irretorquíveis, acaba prevalecendo, na maioria das vezes, as manobras de bastidores, que funcionam como um salvo-conduto para a impunidade.

A série dos Diários Secretos, da Gazeta do Povo e da RPC TV, é um exemplo claro no âmbito doméstico. Apesar da enxurrada de evidências dos desmandos cometidos na Assembleia Legislativa do Paraná com a contratação irregular de funcionários, os responsáveis diretos pelo zelo da coisa pública nada sofreram. O que se viu foi o arquivamento do pedido de cassação contra o então presidente da Casa, Nelson Justus, e o primeiro-secretário, Alexandre Curi. O motivo alegado foi o de que cabia ao ex-diretor-geral Abib Miguel, por delegação, os poderes para decidir sobre a administração da Casa. A corda roeu no lado mais fraco...

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]