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Eleito deputado federal por São Paulo, o Sr. Francisco Everardo Oliveira Silva desenvolveu sua campanha montado num apelo que se tornou famoso – ‘Vote em Tiririca, que pior não fica!’, dizia o palhaço televisivo para conquistar os eleitores paulistas. Graças a isso, amealhou 1,3 milhão de votos, o que lhe dá a posição de recordista histórico no Brasil em número de votos para a Câmara Federal. O Congresso eleito no último dia 3 levará também a ocupar algumas de suas cadeiras pessoas como os jogadores Romário e Bebeto e o ex-Big Brother Jean Willys, todos do Rio de Janeiro. Com eles lá, certamente acompanhados de outras figuras mais conhecidas pelo pitoresco ou por uma popularidade que não os torna, necessariamente, bons parlamentares, o Congresso ficará pior?

Se depender de Tiririca, o Legislativo não ficará pior nem melhor. Assim como ocorreu com antecessores do mesmo gênero de excentricidades, o que se pode esperar deles, como regra, é o papel de figurantes em meio a uma maioria – queira Deus! – eleita para exercer com maior representatividade a complexa, multifacetada sociedade brasileira, ainda tão carente de instituições mais fortes, respeitadas, mais atinadas e mais preocupadas em vencer os grandes desafios nacionais.

É neste ponto que ainda reside a incógnita. Conhecemos a composição e atuação do Congresso que agora se despede e nos ressentimos de sua atuação, tanto sob o ponto de vista legislativo propriamente dito quanto na esfera ética. Da Legislatura que está terminando herdamos, por exemplo, lembranças desagradáveis, como a paralisia no debate e votação de reformas essenciais, assim como escândalos como os muitos protagonizados sob a presidência do senador José Sarney. Entretanto, ainda não conhecemos como será a média do comportamento dos 513 deputados e 88 senadores que comporão a Legislatura que se iniciará em janeiro próximo.

Dos 513 integrantes da Câmara dos Deputados, 224 não voltarão no próximo ano, o que representa taxa de renovação de quase 44% – índice menor do que os verificados em pleitos anteriores. Em 1994, por exemplo, a renovação atingiu 55% das bancadas e em 2002, 48%. No Senado, das 54 cadeiras que foram colocadas em disputa, 33 foram conquistadas por políticos que nunca atuaram antes na Casa. PT e PMDB, partidos que compõem a base do governo Lula, elegeram o maior número de parlamentares nas duas Casas do Congresso.

O que esperar deles é ainda uma incógnita. Mas o que desejar é mais fácil: seja lá quem for o novo presidente da República, José Serra ou Dilma Roussef, que disputarão o segundo turno no fim do mês, deseja-se do novo Congresso uma atuação mais independente e mais comprometida com o papel que a sociedade brasileira, representada pelos 111 milhões de eleitores que compareceram às urnas, lhe delegou.

Dentre tais responsabilidades, uma, pelo menos, não podem os eleitos se furtar: a realização de uma profunda reforma política e eleitoral, que dê chance e condições ao povo de eleger realmente os melhores.

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