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A possível disposição de contar o que sabe não deixa de ser entendido como um claro "recado" dado por Cachoeira de que não está disposto a "pagar pelo pato sozinho"

Cumprindo o script já esperado, Carlos Augusto Ramos, o notório Carlinhos Cachoeira, não abriu a boca na terça-feira, durante a sessão da CPMI que pretendia ouvi-lo sobre suas suspeitas relações com governadores, parlamentares e empresários. Apontado como um dos chefes do jogo ilegal no país, ironicamente o contraventor procurou amparar-se no direito constitucional de permanecer calado para não responder as perguntas dos deputados e senadores. Contando durante todo o tempo com a orientação – seguramente paga a peso de ouro – do advogado e ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, Cachoeira proferiu a palavra "não" por 48 vezes, ao recusar esclarecer as indagações dos parlamentares.

A postura do bicheiro, muito embora previsível, não deixou de provocar um misto de frustração e revolta em parte dos integrantes da comissão de inquérito, que não poupou uma saraivada de críticas ao seu comportamento. Insatisfação que, a bem da verdade, merece ressalvas diante dos acordos previamente costurados entre governo e oposição para poupar algumas cabeças coroadas de depor, apesar das claras evidências de envolvimento com o bicheiro. Encontram-se nesta situação os governadores Sérgio Cabral (PMDB-RJ), Marconi Pirillo (PSDB-GO) e Agnelo Queiroz (PT-DF), além de senadores e deputados, todos para lá de suspeitos de se favorecerem das benesses de Cachoeira.

Também foi poupado de comparecer à CPMI o empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta, que teria Cachoeira como um dos sócios ocultos. A empresa é beneficiária de bilhões em obras públicas contratadas, algumas sem licitação, junto ao governo federal e a alguns governos estaduais. A blindagem imposta a toda essa turma sinaliza os descaminhos da investigação e a pouca probabilidade de resultados efetivos, principalmente diante do risco de revelações comprometedoras que respinguem no governo e em aliados. Na pizza que foi encomendada, Cachoeira por enquanto é a única figura carimbada exposta aos holofotes da CPMI. Muito embora tenha se negado a responder à oitiva dos parlamentares ele não saiu da sessão sem deixar uma ameaça velada no ar. Referiu-se à possibilidade de falar à comissão tão logo compareça à audiência marcada para os dias 31 de maio e 1.º de junho, na Justiça Federal de Goiás.

A possível disposição de contar o que sabe não deixa de ser entendido como um claro "recado" dado por Cachoeira de que não está disposto a "pagar pelo pato sozinho". Se isso efetivamente ocorrer, um passo importante poderá ser dado no sentido de se retirar o manto da impunidade que esconde os acordos e negociatas de bastidores que corroem os cofres públicos. Abrindo o bico, tanto ele como o empresário Fernando Cavendish, têm o condão de tornar público um dos mais bem sucedidos esquemas de corrupção que já vicejou à sombra do poder público do país. Essa hipótese, embora remota de ocorrer, é forçoso reconhecer, pode efetivamente dar novo direcionamento à CPMI, pondo por terra a blindagem prévia feita em torno dos personagens diretamente envolvidos com Cachoeira.

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