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Gustavo Fruet prometeu enfrentar "interesses poderosos" no transporte coletivo de Curitiba. A população espera que a cidade volte a encontrar o rumo da inovação no setor

No dia da posse, o novo prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet, fez o trajeto entre a Câmara Municipal e a Prefeitura de bicicleta, mas foram suas declarações sobre o preço da passagem de ônibus que chamaram a atenção. Fruet antecipou que a tarifa deve subir, mas não chegará aos R$ 3,10 pedidos pelas empresas do transporte coletivo. E prometeu enfrentar "interesses poderosos" que estão "arraigados" no setor, tirando muitos da "zona de conforto".

Tanto o gesto de pedalar quanto o discurso sobre os ônibus são reflexo de uma necessidade urgente de Curitiba, que ganhou fama internacional pelas soluções encontradas décadas atrás para o transporte urbano, mas que nos últimos anos não manteve o ritmo da inovação. Praticamente todas as grandes intervenções urbanas recentes tiveram como objetivo facilitar a vida de quem usa o automóvel, em vez de incentivar a adoção de meios alternativos (como a bicicleta) ou o uso do transporte público. O sistema de ônibus, aliás, mostrou poucas novidades, sendo o "azulão" a mais divulgada.

O fato de o principal orgulho de uma gestão na área do transporte público ser apenas a introdução de um ônibus maior mostra que Curitiba perdeu o rumo da inovação. A licitação das linhas, feita em 2010, resolveu um problema legal, mas não mudou o cenário que fez de Curitiba a única capital das regiões Sul e Sudeste do país a perder passageiros no transporte coletivo entre 2008 e 2011. Várias linhas seguem superlotadas e os atrasos são motivo de reclamações constantes – no primeiro ano após a licitação, as metas de pontualidade não foram cumpridas e as empresas não foram punidas. Os investimentos no uso do GPS devem melhorar a confiabilidade do sistema, mas não são suficientes para deter um círculo vicioso: se é cada vez menos atrativo deixar o carro em casa para usar os ônibus (e tanto os incentivos do governo federal quanto a orientação urbanística da cidade enviam ao cidadão a mensagem de que o caminho certo passa pelo uso do automóvel próprio), o número de passageiros seguirá caindo, forçando os usuários remanescentes – justamente aqueles que não têm escolha a não ser andar de ônibus – a pagar cada vez mais para manter o serviço.

A integração temporal – a possibilidade de fazer mais de uma viagem de ônibus pagando uma única tarifa, trazendo economia ao passageiro –, por exemplo, é uma melhoria significativa que caminha a passos lentos em Curitiba. Atualmente, ela está disponível apenas em algumas estações-tubo e linhas de ônibus selecionadas, como o Interbairros I; os demais usuários que precisam fazer baldeações fora de um terminal seguem pagando duas ou mais passagens. Enquanto isso, São Paulo, com uma rede de ônibus muito mais complexa que a curitibana, levou apenas três anos para implantar seu Bilhete Único, que começou a funcionar em 2004.

Mesmo que o projeto do metrô (cuja suspensão foi anunciada ainda antes de Fruet assumir a prefeitura) seja retomado, o curitibano ainda dependerá do ônibus como único modal de transporte público por vários anos. A manutenção de um secretário cuja família é proprietária de uma empresa de transporte coletivo – ainda que sua pasta não tenha ligação com o setor – preocupa muitas pessoas que esperam ver os "interesses poderosos" devidamente enfrentados, mas serão as próximas ações de Fruet que revelarão se o gesto e o discurso do dia da posse foram reais ou não passaram de mera demagogia.

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