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Na quinta-feira, dia 17, um pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff elaborado pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Junior e Janaina Paschoal, e também assinado por representantes de movimentos como o Vem pra Rua e o Brasil Livre, foi entregue ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O evento contou com a participação de políticos da oposição: o Democratas e o PSDB mandaram seus líderes na Casa, respectivamente Mendonça Filho e Carlos Sampaio; também estava presente o líder do bloco de oposição, o deputado tucano Bruno Araújo.

Nenhum dos tucanos presentes à entrega do pedido de impeachment, apesar de sua posição de liderança, é exatamente o que se costuma chamar de “cacique” partidário, aquele político que dá as cartas e tem influência na legenda. No caso do PSDB, os que exercem esse papel têm batido cabeça de forma constante, a ponto de um deles, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ter tomado a iniciativa, em agosto, de chamar outros dois, o senador Aécio Neves e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para tentar unificar o discurso do partido.

Em 2005 o mensalão fez apenas o PT sangrar; hoje, os desmandos na economia fazem sangrar um país todo

Aparentemente, a iniciativa não tem sido muito bem-sucedida. Enquanto Aécio segue com uma postura mais favorável à saída imediata de Dilma, surge a informação, divulgada pelo colunista Celso Nascimento na Gazeta do Povo de 15 de setembro, de que FHC e Alckmin estariam trabalhando nos bastidores para frear o ímpeto do PSDB. Não porque eles estejam totalmente convencidos de que não há elementos para o impeachment, mas porque o objetivo seria lançar Alckmin para a Presidência em 2018 – o mesmo Alckmin que conseguiu a proeza de, em 2006, ter conseguido diminuir sua votação entre o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial em que perdeu para Lula.

Por mais que a informação tenha sido veiculada não por um tucano, mas pela ministra Eleonora Menicucci, amiga de Dilma, e por isso deva ser vista com alguma reserva, o fato é que declarações semelhantes já têm sido feitas há alguns meses por líderes oposicionistas, como o próprio FHC e o senador Aloysio Nunes Ferreira (candidato a vice-presidente em 2014 e que só mais recentemente passou a falar com mais dureza sobre o impeachment). Além disso, a estratégia não seria novidade: em 2005, no auge do escândalo do mensalão, o PSDB seguiu conselho – atribuído a FHC, mas que ele nega – para não tomar ações mais enérgicas contra o governo, e sim “deixar Lula sangrar” para que chegasse enfraquecido ao pleito de 2006. O resultado foi a já mencionada reeleição do petista.

Claro, algumas coisas mudaram em dez anos: em 2005, apesar de a inflação estar acima do centro da meta do Banco Central, a economia estava crescendo, com Lula colhendo os frutos da estabilização obtida nos anos FHC (mérito que Lula jamais reconheceu), e o carisma do “operário que chegou à Presidência” seguia em alta. Dilma não tem e nunca teve esse carisma, e o país vive uma perigosa combinação de recessão com inflação, com desemprego em alta. Em resumo, a atual presidente está em um buraco muito mais difícil de sair em comparação com aquele no qual se encontrava Lula. Mas são essas mesmas circunstâncias que tornam ainda mais mesquinha uma oposição que se concentra apenas em projetos políticos pessoais: afinal, em 2005 o mensalão fez apenas o PT sangrar; hoje, os desmandos na economia fazem sangrar um país todo. É certo concordar que a sangria continue em nome de considerações político-eleitorais?

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