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A divisão do trabalho teve início com o homem antigo que, intuitivamente, descobriu ser mais vantajoso dividir as tarefas de forma a permitir que cada um, pela exaustiva repetição, se especializasse em uma determinada atividade. Inicialmente, para obter seu alimento, cada homem pescava, caçava e coletava frutos. Como o trabalho era extenuante e a produção era baixa, descobriu-se um meio mais vantajoso: um se dedicaria somente à pesca, outro somente à caça e um terceiro somente à coleta de frutos. O trabalho em uma só tarefa levou à melhoria das habilidades, a produção por hora (produtividade) cresceu, o volume de alimentos aumentou e todos ganharam.

O que a Revolução Industrial fez, ao introduzir a divisão do trabalho no interior das fábricas, foi adotar o mesmo princípio, com a especialização do operário e o consequente aumento da produção total nas mesmas horas de trabalho. O exemplo mais famoso da divisão do trabalho e seu efeito sobre a produtividade do operário é contado na primeira grande obra de macroeconomia, A Riqueza das Nações, de autoria de Adam Smith, quando explica o funcionamento da fábrica de alfinetes.

O mesmo princípio da especialização e da divisão do trabalho foi transposto para as nações e foi estudado com método científico por economistas, filósofos e políticos, resultando na teoria das vantagens comparativas. Os países, por vocação, produzem determinados bens e serviços com mais eficiência e maior produtividade do que outros, tornando vantajoso para todos que cada um se dedique àquilo que sabe fazer melhor e que promovam as trocas num amplo mercado internacional.

Por exemplo, o Brasil tem vocação para produzir café e a Argentina não. Em contrapartida, a Argentina tem vocação para produzir maçã e o Brasil não. A natureza, a terra e o clima são os elementos que promovem tais diferenças, como é o caso das nações com vocação para produção de alimentos, mas que não produzem petróleo; e outras com vocação para produzir petróleo, mas que não produzem alimentos. Como todos precisam de alimentos e de petróleo, o comércio internacional beneficia a todos à medida que se desenrola com base em regras de direito internacional e acordos pacíficos.

Não é preciso ir muito longe para entender que, no mundo moderno, o protecionismo, entendido como a imposição de barreiras para a importação de bens e serviços, pode ser uma prática nociva aos interesses da sociedade, sobretudo aos interesses dos consumidores. Pois é isso que o Brasil vem fazendo há um bom tempo sob o argumento de que é preciso dificultar a importação de determinados produtos a fim de estimular a criação de empresas industriais nacionais dedicadas a produzir tais bens e a gerar empregos dentro do país.

Dizem os partidários do protecionismo que esse princípio não vale para certas atividades industriais, como fabricar parafusos ou computadores. Ocorre que a indústria de transformação exige alta tecnologia e o mundo descobriu que o protecionismo tem o efeito de encobrir ineficiência, dificultar a absorção de tecnologia e manter o país com baixa produtividade. Eventual aumento do emprego derivado do protecionismo é pequeno, pois no longo prazo o efeito é justamente o não desenvolvimento da indústria nacional, conforme mostram estudos sobre o atraso do parque industrial brasileiro. O protecionismo gerou ineficiência, custos elevados e preços altos que castigam o consumidor e diminuem o poder de compra dos salários.

Além desses aspectos conceituais favoráveis à inserção do país no mercado internacional e à redução do protecionismo, há uma sequência de efeitos altamente desejáveis. Ao comércio (do país com o resto do mundo) segue-se o investimento, e ao investimento segue-se a transferência de tecnologia. O isolamento comercial atua para diminuir a entrada de capitais estrangeiros produtivos (investimentos no território nacional que geram produto, renda, emprego e impostos) e reduz a absorção de tecnologia estrangeira. Não é por acaso que os países que mais se desenvolveram foram os que mais se abriram ao resto do mundo, entre os quais destacam-se Estados Unidos, Japão e Canadá.

A melhor política industrial que o Brasil pode adotar é investir pesado em educação de base, qualificação da mão de obra, proteção ao direito de propriedade, incentivo à importação de tecnologia e abertura comercial.

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