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O mandado de condução coercitiva contra o ex-presidente Lula, na sexta-feira passada, despertou em lideranças petistas seus instintos mais primitivos, como disse certa vez um protagonista do mensalão, o ex-deputado Roberto Jefferson. Alguns chefões do petismo abandonaram de vez qualquer pudor e começaram a falar em ir à rua simultaneamente às manifestações contra o PT e pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. No domingo passado, enquanto militantes jogavam pedras na sede da Rede Globo, no Rio de Janeiro, o presidente do PT fluminense, Washington Quaquá, deixava claro: “Vamos para a rua inclusive no dia 13, em Copacabana. Quero ver quem vai nos impedir”.

Segundo a colunista da Folha de S.Paulo Monica Bergamo, movimentos sociais pretendiam organizar sua manifestação na Avenida Paulista – tanto Copacabana, no Rio, quando a Paulista, em São Paulo, são os locais exatos das passeatas contrárias ao governo, marcadas já há muito tempo. Em Porto Alegre, o PT, partidos aliados e a CUT estarão em um parque a um quilômetro de distância do local da manifestação antipetista.

Quem incita a agressividade da militância ou deixa no ar a possibilidade de uma “venezuelanização” do Brasil merece repúdio

O que é isso senão uma provocação ao conflito? É o tipo de irresponsabilidade que não pode ser admitida nem mesmo como um blefe destinado a murchar os protestos contra o PT, numa aposta de que as pessoas deixariam de comparecer se houvesse a possibilidade de uma briga com militantes defensores do governo. Mas é a consequência natural da retórica que Lula, Rui Falcão e outros líderes petistas e de movimentos como a CUT vêm usando há tempos, e que foi intensificada a partir de sexta-feira. A mesma retórica que ganhou o endosso de outro cacique petista, Gilberto Carvalho. Em entrevista à Folha, perguntado sobre a possibilidade de radicalização nas ruas, Carvalho disse que “depende”: se a Lava Jato continuar aborrecendo Lula, “aí eu temo muito por um processo que nos leve ao que acontece na Venezuela, porque você vai levar ao processo de justiçamento, de justiça com as próprias mãos, e haverá um ódio progressivo (...) Estou convencido de que pode ocorrer no dia 13”, acrescentou. Depois de morder, Carvalho até assopra, dizendo que “temos de ter maturidade de não insuflar ou estimular esse tipo de manifestação”, mas que crédito tem um ex-chefe da Secretaria Geral da Presidência que, no exercício do cargo, aceitou como interlocutores legítimos os baderneiros black blocs e os sem-terra que haviam transformado a Praça dos Três Poderes em cenário de batalha campal?

Quando são tantas as lideranças querendo o conflito, é preciso elogiar a sensatez quando ela se mostra. É o caso do PT paranaense, que desaconselhou seus membros a organizar qualquer tipo de manifestação de apoio no dia 13, deixando a mobilização para outras datas; e do ministro Ricardo Berzoini, que tem trabalhado para evitar passeatas pró-Lula no mesmo dia dos protestos pelo impeachment e contra o PT.

Autoridades também já se pronunciaram. Em São Paulo, o governador tucano Geraldo Alckmin e o secretário de Segurança Pública deixaram claro que a Polícia Militar não autorizaria eventos petistas na Avenida Paulista no dia 13, levando os movimentos sociais e a Juventude do PT a anunciar que, em vez da Paulista, seu evento ocorrerá em outro local, a dois quilômetros de distância. Governadores e secretários de outros estados onde há a possibilidade de eventos simultâneos deveriam vir a público oferecer garantia semelhante de segurança para todos os que desejarem ir à rua.

O direito à manifestação precisa ser garantido tanto para os opositores quanto para os apoiadores do governo, mas esse tipo de provocação e a ameaça de confronto não têm lugar em uma sociedade democrática. Quem incita a agressividade da militância ou deixa no ar a possibilidade de uma “venezuelanização” do Brasil merece repúdio inclusive daqueles que estão do mesmo lado ideologicamente, mas acreditam na força das instituições e do debate civilizado.

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