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A reunião de cúpula do Mercosul que começa hoje, no Rio, poderá ter êxito ou acentuar os problemas de integração. Esperamos que os líderes do bloco sul-americano aproveitem o encontro para um esforço de inserção mundial apoiado na modernidade, em vez de cederem à retórica terceiro-mundista que arrisca tomar conta do continente.

Começando pelo item principal, sem cogitar de condicionalidades para adesão, o ingresso da Bolívia deve observar a cláusula democrática do Mercosul, aprovada pela Declaração de Ushuaia; o mesmo se aplicando à Venezuela. A propósito, sugere o ex-ministro João Paulo dos Reis Veloso, o ideal seria contrabalançar a admissão desses dois países com o convite para adesão plena do Chile. É que enquanto Venezuela e Bolívia se inclinaram por um modelo de democracia neopopulista, o Chile superou essa atração por utopias ao evoluir para uma "democracia de consensos" que consolidou seu desenvolvimento sócio-econômico.

Numa dimensão mais ampla, o modelo paritário de associação ao Mercosul não está funcionando. Os europeus tiveram sucesso em sua união continental por fatores históricos (Alemanha e França principiaram o processo após a exaustão da II Guerra Mundial) e sobretudo, por aceitarem a diferença de tamanho ("assimetria" no jargão diplomático) entre os membros da nascente comunidade. Assim, países maiores têm mais votos que os integrantes de menor porte, embora seja assegurada a participação a todos, o que garante um equilíbrio dinâmico ao bloco – ausente no Mercosul.

Por isso a diplomacia brasileira sempre resistiu ao partilhamento de soberania, segundo o professor Alfredo Valladão, do Instituto de Estudos Políticos de Paris. Para comparação, um arranjo inteligente seria o da China, que não alardeia mas também não esconde sua importância regional e, nessa condição, acaba de firmar um acordo "um mais seis" com as nações do Sudeste Asiático (Filipinas, Malásia, Tailândia, etc.), preservando sua condição de centro conectado com os vizinhos.

Mais grave é que, ao rejeitar a realidade mundial, a América Latina se apega a uma estratégia defensiva que poderia fazer sentido em eras passadas, mas hoje gera irrelevância: para o ex-ministro chileno Ignácio Walker, o continente representava 12% do comércio mundial no pós-guerra (década de 1950), caindo para 3%; enquanto o Sudeste Asiático se firma como terceiro centro dinâmico da economia internacional, ao lado da América do Norte e da Europa.

A onda nacionalista que afeta investimentos na América Latina, conforme estudo da ONU, ainda não atingiu com força o Brasil. Mas os sinais contraditórios emitidos por Brasília já surtem efeito: a imprensa londrina registrou negativamente o recuo na privatização pedagiada de rodovias. Porém, na mesma semana em que a ministra-chefe da Casa Civil fez aquelas declarações conflitantes. foi sancionada a lei de quebra do monopólio de resseguros, autorizando-nos a esperar que o governo Lula mantenha sua linha de esquerda pragmática.

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